Presidente Jair Bolsonaro e presidente do Paraguai, Mario Abdo, em Foz do Iguaçu (Marcos Correa/Presidência da República/Divulgação)
Gabriela Ruic
Publicado em 6 de agosto de 2019 às 14h58.
Última atualização em 6 de agosto de 2019 às 15h53.
São Paulo – Mario Abdo, presidente do Paraguai, sabia que o acordo de Itaipu prejudicava os interesses do seu país e pressionou Pedro Ferreira, chefe da Ande, estatal energética paraguaia, a assinar o documento e manter suas disposições em segredo. É o que revelaram mensagens trocadas entre Abdo e Ferreira, divulgadas pelo jornal ABC Color, do Paraguai.
Em entrevista à publicação, feita depois de as informações virem à tona, Abdo disse ter agido de boa fé e que não tem nada a esconder.
Pouco antes do início da tarde, 30 deputados da oposição entregaram o pedido de impeachment de Abdo, que ainda precisa ser aceito pela Câmara dos Deputados. Além da sua remoção, pedem, ainda, a saída do vice-presidente, Hugo Velázquez, e do ministro da Fazenda, Benigno López. Jornal acusou o governo de Abdo de ter sido "entreguista" ao governo brasileiro no acordo de Itaipu.
Os vazamentos divulgados pelo ABC Color indicaram que o Brasil estaria pressionando o Paraguai para que cumprisse o acordo, assinado em 24 de maio. De acordo com o jornal, o embaixador do Paraguai no Brasil chegou a ser convocado pelo Itamaraty para expressar o que foi chamado de “mal-estar do governo brasileiro” pela demora do país em cumprir os compromissos firmados no documento.
O acordo foi cancelado pelo Paraguai no último dia 1, depois da ameaça de impeachment de Abdo, acusado por opositores de traição. Nos termos do documento assinado, o Paraguai passaria a contratar mais energia da Itaipu, e por valores maiores. Segundo estimativas, os gastos do país poderiam aumentar em mais de 200 milhões de dólares.
Ainda de acordo com as mensagens, Abdo corria para fechar o acordo, que dizia ser “fundamental para a economia”, apesar dos alertas de Ferreira, presidente da Ande, de que as disposições fossem ruins para o país. Ferreira se demitiu no final de julho e denunciou o caso à imprensa.
O episódio gerou uma saia justa diplomática com o Brasil e um escândalo que agora pode custar ao atual presidente paraguaio, eleito com uma agenda conservadora e no cargo desde agosto de 2018, a sua posição. Vale lembrar que o último impeachment no país, que foi o do ex-presidente Fernando Lugo em 2012, aconteceu em apenas 36 horas.