Protestos na França: "Permanecerei firme porque acredito que é uma boa reforma e devemos continuar até sua adoção", disse Hollande (Jean-Paul Pelissier / Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2016 às 11h06.
O presidente francês, François Hollande, prometeu nesta sexta-feira seguir adiante com sua polêmica reforma trabalhista, apesar das greves e manifestações que paralisaram algumas indústrias do país.
"Permanecerei firme porque acredito que é uma boa reforma e devemos continuar até sua adoção", disse aos jornalistas ao fim da cúpula do G7 do Japão, acrescentando que seu país garantirá a "liberdade de circulação" dos cidadãos afetados pelas greves de trens e os bloqueios de refinarias e depósitos de combustível.
Segundo o governo, todos os bloqueios a depósitos de combustível foram levantados, com exceção de um, "o de Gargenville (região parisiense) que permanece em greve", indicou à AFP um porta-voz do secretário de Estado para os Transportes.
"Nosso primeiro dever é (...) fazer tudo para que os consumidores possam se abastecer de combustível, fornecer serviços públicos essenciais, permitir o transporte de todos e garantir o bom funcionamento da economia", prosseguiu o chefe de Estado.
O texto em discussão no Parlamento divide a maioria socialista no poder e seus opositores tentam paralisar o país.
Na quinta-feira, milhares de manifestantes (300.000 segundo o sindicato CGT, 153.000 de acordo com as autoridades) foram às ruas em toda a França.
Os oito sindicatos que se opõem à lei, considerada muito liberal, lançaram um apelo "para prosseguir e ampliar a mobilização popular".
"Fora Valls", "Não à lei trabalhista", gritavam nesta sexta os manifestantes que bloqueavam o depósito de petróleo de Donges (oeste), o segundo maior do país, antes de serem forçados a deixar o local pela polícia.
Diante das greves nos transportes e da escassez de combustível, os franceses reagem de forma diferente a esta crise.
"Os franceses estão acostumados com as greves, o que é curioso", constata, fatalista, Genevieve de Maud’huy, uma aposentada que esperava em um posto de gasolina a oeste de Paris para abastecer 40 euros de gasolina, o máximo permitido.
Segundo uma pesquisa, sete franceses em 10 desejam a retirada do texto "para evitar a paralisia do país".
Nesta sexta, o chefe do patronato francês, Pierre Gattaz, denunciou "métodos irresponsáveis" e pediu "resistência ante a chantagem" dos sindicatos.
Novas manifestações
Lançado há quase três meses, o movimento endureceu na semana passada com o bloqueio de portos, refinarias e depósitos de combustível.
As greves contra o projeto de reforma trabalhista do governo socialista se estenderam na quinta-feira às centrais nucleares, provocando perturbações no fornecimento de gasolina, e confrontos de jovens com a polícia.
Nove centrais nucleares, de 19 no total no país, tiveram uma redução na produção, segundo a CGT, sem, contudo, atrapalhar o fornecimento de energia elétrica.
O movimento também tem tido consequências no setor do turismo, com cancelamentos em série por pessoas que temem não conseguirem se locomover pelo país por falta de combustível.
Tudo isso, faltando poucos dias para o início, em 10 de junho, da Eurocopa na França.
Neste contexto, o primeiro-ministro Manuel Valls admitiu, na quinta-feira, a possibilidade de "mudanças" ou "melhorias" no projeto de lei trabalhista, e anunciou que receberia no sábado representantes "do setor petrolífero".
Segundo o governo, a lei vai dar mais flexibilidade às empresas para combater o desemprego.
Já os seus detratores consideram que irá aumentar a insegurança no trabalho e criticam nomeadamente o artigo 2, que dá primazia aos acordos particulares sobre as negociações de sindicatos profissionais.
Além dos bloqueios que devem ser mantidos, um nono dia de mobilização geral, uma concentração única em Paris, será realizado em 14 de junho, quatro dias depois do início do torneio de futebol.
Liderando as pesquisas para a eleição presidencial de 2017, o ex-primeiro-ministro de direita Alain Juppé expressou nessa sexta sua preocupação com a duração do movimento social.
"Deve durar pelo menos todo o mês de junho, e talvez por todo o mês de julho", afirmou, apelando para o governo retomar o diálogo.