Protestos: manifestantes invadiram a sede do principal canal de televisão público do Sri Lanka. (Amal JAYASINGHE/AFP)
AFP
Publicado em 14 de julho de 2022 às 16h32.
O presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, renunciou, nesta quinta-feira (14), em Singapura, aonde acabara de chegar, enquanto os manifestantes encerraram a ocupação de edifícios públicos em Colombo, garantindo, contudo, que continuarão pressionando o poder em meio à grave crise, econômica e política.
Enviada por e-mail para o presidente do Parlamento, a carta de renúncia foi transmitida ao procurador-geral do país para que ele avaliasse os aspectos legais antes de aceitá-la formalmente, disse o porta-voz do titular do Parlamento, Indunil Yapa.
Rajapaksa, de 73 anos, havia dado a quarta-feira como prazo máximo para fazer o pedido de renúncia. Se o mesmo for aceito, ele se tornará o primeiro presidente do Sri Lanka a renunciar desde a adoção do presidencialismo como sistema de governo, em 1978.
Gotabaya Rajapaksa aterrissou em Singapura a bordo de um avião da companhia saudita Saudia, procedente das Maldivas, para onde havia fugido na véspera.
A cidade-Estado afirmou hoje que Rajapaksa chegou ao país "em visita privada", mas "não solicitou asilo, que tampouco foi-lhe concedido", conforme comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores de Singapura, no qual lembra que o país, "em geral, não aceita pedidos de asilo".
Como presidente, Rajapaksa goza de imunidade e não pode ser preso. Especula-se que ele teria saído do país antes de renunciar para evitar sua prisão.
Em Colombo, a capital do Sri Lanka, os manifestantes deixaram diversos edifícios estatais que haviam ocupado há vários dias, depois que o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe ordenou as forças de segurança que restabelecessem a ordem, além de decretar estado de emergência.
"Estamos saindo pacificamente do Palácio Presidencial, da secretaria presidencial e do escritório do primeiro-ministro com efeito imediato, mas vamos continuar nossa luta", disse uma porta-voz dos manifestantes.
Testemunhas relataram que dezenas de ativistas estavam deixando o gabinete do primeiro-ministro, enquanto a polícia e outros membros das forças de segurança entravam no prédio.
Agentes armados faziam rondas em algumas partes da cidade, que está sob toque de recolher.
Segundo fontes de Segurança, Rajapaksa, que viajou com sua mulher, Ioma, e com dois guarda-costas, ficará em Singapura por um tempo, antes de ir para os Emirados Árabes Unidos.
País situado no Oceano Índico, ao sul do subcontinente indiano, o Sri Lanka sofre com a escassez de produtos essenciais pela falta de divisas para as importações. Os manifestantes consideram que a crise é consequência da má gestão de Rajapaksa.
Depois de meses de protestos, os manifestantes invadiram a residência oficial do presidente no último sábado (9). Posteriormente, ocuparam o gabinete do primeiro-ministro.
Desde a fuga do presidente, o complexo foi aberto ao público, e milhares de pessoas visitaram o edifício. No local, Gihan Martyn, um comerciante de 49 anos, considerou a atitude do presidente uma "jogada para ganhar tempo".
"É um covarde", disse. "Arruinou nosso país junto com a família Rajapaksa. Por isso não confiamos nele e precisamos de um novo governo", prosseguiu.
A polícia afirmou que um soldado e um oficial foram feridos nos confrontos que ocorreram durante a noite do lado de fora do Parlamento.
O principal hospital de Colombo informou que 85 pessoas foram admitidas com ferimentos na quarta-feira. Além disso, um homem morreu asfixiado, após inalar gás lacrimogênio no escritório do primeiro-ministro.
Nesta quinta-feira, o Exército e a polícia receberam novas ordens para reprimir com firmeza qualquer tipo de violência.
O anúncio não foi suficiente para intimidar Chirath Chathuranga Jayalath, um estudante de 26 anos, que disse não ter medo: "Eles não podem deter estas manifestações matando a gente. Vão atirar nas nossas cabeças, mas estamos fazendo isso com nossos corações".
A mídia local das Maldivas informou que Rajapaksa foi recebido de forma hostil pelos passageiros no aeroporto, ao desembarcar no país, na quarta-feira (13).
Ele foi hostilizado e insultado no aeroporto internacional de Velana, e um grupo organizou uma manifestação para pedir às autoridades das Maldivas que não permitissem sua estada no país.
Os meios de comunicação do arquipélago informaram que ele passou a noite no luxuoso hotel Waldorf Astoria Ithaafushi.
Essa opulência contrasta com a dura crise vivenciada por seus compatriotas, já que quatro de cada cinco pessoas no país precisam pular alguma refeição por conta da catastrófica situação econômica do país.
O Sri Lanka declarou uma moratória da dívida de US$ 51 bilhões em abril e está em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
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