Horacio Cartes: o político foi investigado no Brasil e nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e contrabando de cigarro (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2015 às 13h57.
Assunção - Entre as pessoas com contas no HSBC da Suíça da denominada "Lista Falciani" se encontram 82 clientes vinculados ao Paraguai que depositaram até US$ 45,9 milhões no banco, entre eles o presidente Horacio Cartes, segundo informou nesta segunda-feira uma ampla investigação internacional jornalística.
Cartes, que é dono de um consórcio de empresas dedicadas ao setor financeiro, tabaco e bebida, abriu duas contas no HSBC da Suíça em 7 de março de 1989, segundo revelou o jornal paraguaio "ABC Color". Cartes chegou ao poder em agosto de 2013 como líder do conservador Partido Colorado.
Horacio Manuel Cartes Jara foi registrado no HSBC como "agente de turismo" sete dias depois da constituição da sociedade Cambios Amambay, agora Banco Amambay, instituição mencionada em um documento confidencial da embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires encaminhado ao Departamento do Tesouro em Washington e vazado pelo Wikileaks.
A carta afirma que o ex-diretor da Secretaria Antidrogas do Paraguai Hugo Ibarra disse a um interlocutor americano que "80% da lavagem de dinheiro no Paraguai se movimenta através dessa instituição bancária".
Segundo a investigação, Cartes criou as contas na Suíça dois meses antes de ser enviado para a prisão, após ser acusado de participar de um suposto escândalo de evasão de divisas pelo qual passou cinco meses detido.
A justiça confiscou na época 800 milhões de guaranis (cerca de US$ 200 mil em 1989) de Cartes.
A primeira das contas que Cartes abriu no HSBC, segundo a investigação internacional, teve primeiro como endereço uma casa registrada no nome de seu pai em Assunção, e depois em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.
A segunda conta tem o nome de sua filha mais velha e o ano em que ela nasceu: SOFIA88. Ambas as contas foram fechadas em 1991; uma delas em março e a outra em outubro.
O criador do Grupo Cartes, um conglomerado de 25 empresas dedicadas ao tabaco, bebidas e refrigerantes, pecuária e bancos, começou com 19 anos "suas atividades comerciais", segundo sua biografia oficial.
Cartes permaneceu quatro anos foragido em sua juventude após ser acusado de participar de esquema ilegal dedicado à obtenção de dólares preferenciais (com câmbio mais favorável).
Ao longo da década passada, o político foi investigado no Brasil e nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro e contrabando de cigarros, e no Paraguai pela descoberta de carregamentos de drogas em alguma de suas propriedades, mas como ressaltam seus advogados, ele nunca foi processado.
Segundo o jornal "ABC Color", há quase duas semanas o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) tenta obter a versão de Cartes, tanto de Washington como do Paraguai, por meio de seu secretário privado e de seu chefe de gabinete, mas sem sucesso.
Na lista aparecem um total 82 clientes paraguaios e 62 perfis bancários associados ao Paraguai.
A chamada "Lista Falciani", na qual figuram "milhares de clientes do HSBC de Genebra", como o falecido presidente do Banco Santander Emilio Botín; o rei do Marrocos, Muhammad VI, e o rei da Jordânia, Abdullah II, começou hoje a ser revelada pela imprensa internacional.
A lista foi elaborada com dados da unidade em Genebra do banco britânico HSBC que o técnico em informática Hervé Falciani gravou em um CD e entregou à Fazenda francesa em 2009.
Segundo as informações publicadas hoje, passaram pelo HSBC US$ 180 bilhões que teriam servido para a fraude fiscal, a lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo internacional.