Agência de notícias
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 19h04.
O Panamá enviou uma carta formal ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e ao Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira, criticando os comentários que o presidente Donald Trump fez sobre a recuperação do Canal do Panamá durante seu discurso de posse.
"Nós não o demos à China", disse Trump após tomar posse, continuando: "Nós o demos ao Panamá e estamos pegando-o de volta".
A carta, datada de 20 de janeiro e vista pelo jornal The New York Times, anexava uma declaração do presidente do Panamá, José Raúl Mulino, dizendo que, em nome de seu país e de seu povo, "devo rejeitar integralmente as palavras expressas pelo presidente Donald Trump em relação ao Panamá e seu Canal em seu discurso de posse". Mulino enfatizou que "o canal é e continuará sendo do Panamá".
A carta citou dois artigos da carta da ONU que proíbem os Estados membros de usar ameaças e força contra "a integridade territorial ou a independência política", chamando tais ações de inconsistentes com o propósito da organização e sugerindo que as declarações de Trump violaram a carta da ONU.
O Panamá não solicitou que o Conselho de Segurança convocasse uma reunião sobre o assunto, mas diplomatas disseram que, se as tensões entre os Estados Unidos e o Panamá persistirem, é possível que o conselho marque uma reunião. Os EUA estão entre os cinco membros permanentes do conselho que detêm o direito de veto.
Desde o final do ano passado, Trump tem repetidamente atacado o Panamá, alegando falsamente que o país cedeu o controle da hidrovia para a China e que os EUA devem recuperar a passagem estratégica. Essas alegações foram refutadas várias vezes por Mulino, ao afirmar, depois que Trump mencionou o canal em um discurso no final de dezembro, que "cada metro quadrado do Canal do Panamá e suas zonas adjacentes fazem parte do Panamá e continuarão a fazer".
Na ocasião, ele acrescentou:
"A soberania e a independência de nosso país não são negociáveis".
O canal foi construído pelos Estados Unidos no início do século XX, mas após longas negociações no final da década de 1970, Washington concordou em entregar o controle total ao Panamá em 1999. Desde então, o Panamá tem supervisionado a hidrovia por meio da Autoridade do Canal do Panamá, que concluiu uma expansão do canal em 2016 para acomodar navios de carga maiores.
Trump não recuou em suas afirmações. Este mês, em um longo discurso que fez em Mar-a-Lago, sua propriedade na Flórida, ele se recusou a descartar o uso de força militar para retomar o canal.
"Pode ser que vocês tenham que fazer alguma coisa", disse o republicano.
A declaração enervou os panamenhos, muitos dos quais se lembram não apenas da época em que os Estados Unidos controlavam o canal e o território circundante, conhecido como Zona do Canal, mas também de quando os militares americanos invadiram o Panamá em 1989 para depor o regime autocrático de Manuel Noriega.
"Essa não foi uma invasão para colonizar ou tomar território", disse Raúl Arias de Para, empresário de ecoturismo e descendente de um dos fundadores do Panamá. "Ela nos libertou de uma ditadura terrível".
Na segunda-feira, Mulino rapidamente divulgou uma declaração repreendendo o novo presidente dos EUA por sua retórica. "O diálogo é sempre o caminho para esclarecer os pontos mencionados sem prejudicar nosso direito, a soberania total e a propriedade de nosso Canal", disse o mandatário em sua declaração, que foi publicada na plataforma social X na tarde de segunda.
No entanto, mais tarde naquele mesmo dia, o escritório do controlador panamenho anunciou que auditores haviam visitado as autoridades marítimas do país para iniciar uma inspeção da Panama Ports Co., uma subsidiária da Hutchison Ports Holding. A empresa é uma importante operadora e a principal concessionária portuária do país. Ela também faz parte da CK Hutchison Holdings, um conglomerado com sede em Hong Kong.
"O objetivo dessa auditoria exaustiva é garantir o uso eficiente e transparente dos recursos públicos", disse o gabinete do controlador.
Os comentários de Trump durante seu discurso de posse pareciam sinalizar uma escalada nas tensões com Mulino, que, desde que assumiu o cargo no ano passado, sempre sinalizou sua disposição de ajudar os Estados Unidos a restringir a migração em direção à fronteira dos EUA.
Na Selva de Darién, o número de migrantes caiu drasticamente no último ano, depois que o Panamá introduziu restrições mais rígidas para complementar as novas políticas de asilo do governo Biden. Em agosto de 2023, um recorde de 80 mil migrantes passou pelo corredor migratório em um único mês. Em dezembro, as autoridades panamenhas informaram que pouco menos de 5 mil pessoas passaram pelo local.