Hebe de Bonafini: Bonafini foi considerada "participante necessária da manobra", uma vez que se avaliou que "conhecia os desvios financeiros" (Eitan Abramovich/AFP)
EFE
Publicado em 15 de maio de 2017 às 21h37.
Buenos Aires - Um juiz da Argentina determinou nesta segunda-feira o indiciamento da presidente da associação de direitos humanos Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, de 88 anos, em uma causa na qual é investigada uma suposta fraude ao Estado, informaram fontes jurídicas.
Concretamente, o magistrado federal Marcelo Martínez de Giorgi processou Bonafini na qualidade de participante necessária de um delito de defraudação à administração pública por administração fraudulenta.
O juiz abriu também um processo penal por suposta fraude contra os irmãos Sergio e Pablo Schoklender, e o já detido ex-secretário de Obras Públicas, José López (2003-2015), entre outros.
O expediente aborda um suposto desvio de mais de 200 milhões de pesos argentinos (cerca de R$ 40 milhões) no programa "Sonhos compartilhados", plano estatal impulsionado pelo Executivo de Cristina Kirchner (2007-2015) para a construção de imóveis sociais e administrados pela fundação das Mães da Praça de Maio.
A Justiça considera provado que os Schoklender, em sua qualidade de apoderados da fundação, "tiveram uma ativa participação na gestão e execução das construções que foram licitadas a essa instituição", e que posteriormente, uma vez injetados os montantes correspondentes a essas obras na instituição, desviaram 206,43 milhões de pesos argentinos (R$ 41,1 milhões).
A resolução judicial aponta que o "sucesso da manobra" foi possível graças à utilização do prestígio "e da trajetória" que a Associação Mães da Praça de Maio conta na área da defesa dos direitos humanos, e "ao infiel desempenho" de López e Abel Caludio Fatala, que eram responsáveis pela dotação dos recursos do Estado.
López está detido por suposto enriquecimento ilícito desde junho de 2016, quando tentava esconder quase US$ 9 milhões em um convento.
Bonafini foi considerada "participante necessária da manobra", uma vez que se avaliou que "conhecia os desvios financeiros" realizados pelos apoderados e que "pelo menos participou dessas tarefas aprovando os balanços irregulares da instituição".
O caso explodiu em 2011 e despertou duras críticas da oposição para o governo de Cristina Kirchner pela suposta falta de controles no repasse de fundos públicos da organização humanitária, cuja origem remonta a abril de 1977, quando um grupo de mulheres começou a manifestar-se em frente à Casa Rosada de Buenos Aires para exigir da última ditadura militar (1976-1983) notícias de seus filhos desaparecidos.
Em 10 de agosto de 2016, Bonafini, convencida de não ter cometido nenhum delito e tal e como já tinha antecipado, se negou a responder as perguntas do juiz, que compareceu à sede das Mães da Praça de Maio para tomar seu depoimento como investigada na causa.
"Eles estão com (o presidente Mauricio) Macri e eu estou contra Macri; eles estão com os juízes, eu estou com a Justiça, os juízes não são a Justiça", declarou então.
"Pior que o que nos aconteceu já não pode acontecer, eu não tenho medo de ser presa", acrescentou Bonafini, que também defendeu a legalidade das operações realizadas pela associação.