ELN: governo colombiano e o grupo retomaram nesta semana suas negociações em Havana (Federico Rios/Reuters)
AFP
Publicado em 14 de maio de 2018 às 18h58.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, disse nesta segunda-feira (14) que espera assinar um acordo-quadro com a guerrilha do ELN, que seja difícil de ser rompido por seu sucessor, durante a última visita oficial à Espanha, onde defendeu seu legado de paz em seu país.
"Se o ELN (Exército de Libertação Nacional) está disposto a avançar substancialmente antes de o governo terminar, o governo está disposto a avançar substancialmente com o ELN", afirmou Santos durante um fórum com empresários e diplomatas em Madri.
O objetivo é "assinar uma espécie de acordo-quadro (...) com parâmetros básicos e o próximo governo decidirá se continua ou não" com os diálogos, explicou Santos, a duas semanas das eleições presidenciais de 27 de maio.
"Caso se consiga chegar a esse nível, acho que no próximo governo ficará difícil reverter essa negociação", disse Santos, prêmio Nobel da Paz em 2016.
O governo colombiano e o ELN retomaram nesta semana suas negociações em Havana, tentando alcançar um acordo de paz que acabe com um conflito de meio século.
A guerrilha anunciou nesta segunda-feira que suspenderá suas atividades militares por cinco dias - incluindo o final de semana de 27 de maio -, para facilitar a participação nas eleições.
Santos quer que o cessar-fogo "permanente", disse no fórum.
Os esforços do presidente emmandatário em busca do que denomina "a paz completa" na Colômbia para acabar com o último conflito armado interno da América, poderiam ser revertidos pela direita, que se opõe às negociações, caso vença as eleições.
O senador Iván Duque, do direitista Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, feroz opositor a Santos, lidera as pesquisas.
Cumprindo na capital espanhola a escala final de sua última viagem europeia como presidente colombiano, Santos defendeu os acordos de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), concluídos no fim de 2016.
Embora tenha reconhecido "problemas" na aplicação do pacto que transformou as Farc em partido político, afirmou que "vai avançando e que mudará a história do país".
Mais importante ainda, esses acordos "são irreversíveis, não importa que chegue ao poder, terá que continuá-los, não somente do ponto de vista legal, mas prático, racional", apontou o mandatário, que entrega o poder em agosto.
Entre os desafios que restam, Santos destacou o "esforço muito grande" da reparação das quase 8,5 milhões de vítimas deixadas pelo prolongado conflito, do qual também fizeram parte as forças de segurança públicas e grupos de ultra-direita.
Enquanto isso, é preciso continuar impulsionando o desenvolvimento das áreas na Colômbia "onde o conflito não permitiu durante 50 anos a presença do Estado".
E combater os assassinatos de lideranças sociais, um tema que Santos assegurou que "lhe preocupa" e "dói" muito.
"São impactos desse processo, que estamos corrigindo. E o próximo governo terá que continuar a repressão dos grupos criminosos que querem subsistir" após o desaparecimento das Farc como guerrilha, disse.
No domingo em Madri, Santos se reuniu com o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, com quem compartilhou a "preocupação diante da grave situação que a Venezuela atravessa". Nestedomingo serão celebradas no país eleições presidenciais, questionadas por grande parte da oposição e internacionalmente.
Antes de retornar à Colômbia, Santos e a primeira-dama María Clemencia Rodríguez compareceram nesta segunda-feira a um almoço oferecido pelos reis da Espanha, Felipe VI e Letizia, segundo informou a Casa Real, que divulgou fotos dos dois casais na escadaria do Palácio da Zarzuela.
Em sua viagem, Santos visitou Alemanha, Hungria e Itália, onde entregou à chanceler alemã, Angela Merkel "A Lâmpada da Paz", considerada o Nobel católico outorgada pela ordem dos franciscanos e que ele recebeu em 2016.