O ex-presidente afegão Ashraf Ghani: fuga do país após tomada do Talibã (AFP/AFP)
Da redação, com agências
Publicado em 18 de agosto de 2021 às 13h12.
Última atualização em 18 de agosto de 2021 às 18h08.
O paradeiro do ex-presidente do Afeganistão, que fugiu do país após a tomada de Cabul, foi finalmente confirmado.
O governo dos Emirados Árabes Unidos anunciou nesta quarta-feira, 18, que recebeu o ex-mandatário Ashraf Ghani e sua família.
Ashraf Ghani declarou no domingo que deixou o país para evitar um "banho de sangue", ao reconhecer que os "talibãs venceram".
Os Emirados "receberam o presidente afegão Ashraf Ghani e sua família por motivos humanitários" anunciou a agência oficial WAM, que citou o ministério das Relações Exteriores.
O ex-presidente havia dito estar convencido de que, se tivesse permanecido no Afeganistão, "muitos patriotas morreriam e Cabul seria destruída".
"Os talibãs ganharam pelas armas e são, a partir de agora, os responsáveis pela honra, o controle e a preservação do país", completou em uma mensagem no Facebook no fim de semana.
Vários boatos circulavam sobre o destino final de Ghani, incluindo Tadjiquistão, Uzbequistão e Omã.
Os Emirados Árabes Unidos ficam perto do Irã e do Paquistão, vizinhos do Afeganistão. A distância entre Dubai, capital dos Emirados Árabes, e Cabul, capital afegã, é de pouco mais de 4.000 quilômetros.
Em seu discurso sobre a situação no Afeganistão, o presidente americano, Joe Biden, também citou o ex-presidente Ghani indiretamente e disse que os líderes do Afeganistão fugiram do país e que o Exército afegão não apresentou resistência ao Talibã, de modo que não havia nada que os americanos pudessem fazer.
Apesar das críticas aos líderes afegãos, que não foram bem-sucedidos em construir legitimidade perante à população, o discurso de Biden também foi criticado por transferir a culpa da tragédia em Cabul para os afegãos, que já perderam 50.000 pessoas nos 20 anos de guerra, ante 2.500 americanos.
Além de Ghani, uma série de outros líderes afegãos deixaram o país desde o fim de semana.
Em uma postagem com mais de 10.000 compartilhamentos no Twitter, o ex-diretor do Banco Central do Afeganistão, Ajmal Ahmady, descreveu sua fuga e criticou Ghani e as lideranças afegãs.
1/The collapse of the Government in Afghanistan this past week was so swift and complete - it was disorienting and difficult to comprehend.
This is how the events seemed to proceed from my perspective as Central Bank Governor.
— Ajmal Ahmady (@aahmady) August 16, 2021
Já outro ex-presidente afegão, Hamid Karzai, após ter divulgado um vídeo no fim de semana afirmando que não fugiria de Cabul, se encontrou nesta quarta-feira, 18, com líderes do Talibã e diz estar trabalhando para a estabilidade e uma transição de poder.
O até então vice-presidente afegão, Amrullah Saleh, também segue no país. O político rumou para uma das poucas regiões do país não controladas pelo Talibã e disse que será oposição ao regime.
Esta não é a primeira vez que os Emirados Árabes recebem governantes exilados.
No ano passado, o ex-rei da Espanha Juan Carlos viajou para o exílio nos Emirados, ante as investigações por corrupção iniciadas pela justiça de seu país.
Em 2017, Dubai recebeu o ex-primeiro-ministro tailandês Yingluck Shinawatra, condenado à revelia a cinco anos de prisão.
A ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto permaneceu no exílio nos Emirados entre 1999 e outubro de 2007.
Os Emirados, ao lado da Arábia Saudita e do Paquistão, reconheceram o anterior governo talibã, de 1996 a 2001.
Os Emirados Árabes Unidos são aliados americanos no Oriente Médio. O país do Golfo, vale lembrar, foi centro de um acordo de paz costurado durante o governo Donald Trump nos EUA no ano passado, e reatou relações com Israel.
A assinatura do acordo rompeu um tabu entre lideranças do mundo árabe. Até então, Israel só tinha relações diplomáticas com dois países vizinhos: o Egito (desde 1979) e a Jordânia (desde 1994).
(com AFP)
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