Ekmeleddin Ihsanoglu, professor especializado em temas do islã e candidato à presidência turca (Ozan Kose/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2014 às 11h34.
Ancara - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que se orgulha do crescimento econômico do país e de ter dado fim ao poder dos militares, disputará a presidência neste domingo com Ekmeleddin Ihsanoglu, um professor especializado em temas do islã.
Em oposição ao atual primeiro-ministro islâmico conservador, que quer uma presidência com amplos poderes, Ihsanoglu oferece tem uma posição mais moderada e manifesta, em particular, sua preferência por um mandato mais neutro do que o que marca o parlamento atual.
"Uma presidência forte não é conveniente para o país e por esta razão a Turquia rejeitará este regime", declarou à AFP o candidato da aliança do Partido Republicano do Povo (CHP) e do Partido da Ação Nacionalista.
"É o desejo pessoal [de Erdogan] e certas pessoas, inclusive políticos e intelectuais, podem pensar que isso é bom, mas nosso país não aceitará", insistiu.
O legado laico de Atatürk
Mesmo se apresentando como sucessor de Mustafa Kemal Atatürk, que instaurou um Estado laico no país e foi o primeiro presidente desta República nascida em 1923 das ruínas do Império Otomano, Erdogan não é considerado um verdadeiro seguidor das ideias de Atatürk.
Assim pensam milhares de pessoas que foram às ruas nas manifestações contra o governo em junho de 2013, acusando Erdogan de ter enfraquecido o modelo de laicidade turco.
O líder, porém, se orgulha de ter promovido um grande crescimento da economia turca até 2011 e de ter destituído os militares, que durante décadas exerceram uma forte influência sobre a vida política do país.
"Atualmente, a democracia está enfrentando a acumúlo de todos os poderes em uma mão, por um lado, e o fim do princípio de separação dos poderes", argumenta Ihsanoglu.
"Desejamos que a Turquia moderna se una em torno dos princípios defendidos por Atatürk. Queremos serenidade no país porque o mais importante é viver em paz e confiança", concluiu Ihsanoglu.
No entanto, o candidato da oposição não é o favorito dos turcos, de acordo com as pesquisas de opinião.
O levantamento publicado na quinta-feira pela empresa privada Konda informa que, enquanto 34% dos eleitores preferem Ihsanoglu, 57% votarão em Erdogan e 9% são eleitores do candidato curdo, Selahattin Demkirtas.
O principal movimento de oposição ao partido de Erdogan (Partido da Justiça e do Desenvolvimento, o AKP) teme que, caso Erdogan permaneça no poder, seja lançada uma nova e perigosa ofensiva religiosa.
"As medidas baseadas em princípios religiosos aumentarão, a democracia sofrerá um retrocesso e as liberdades serão reduzidas", avaliou Faruk Logoglu, vice-presidente do Partido Republicano do Povo (CHP), em uma entrevista à AFP nesta semana.
"Erdogan quer reativar o califado, mas não se atreve a dizer isso. Ele vai utilizar a presidência para se impor como chefe do mundo muçulmano", assegurou Logoglu.
Nesta sexta-feira, Erdogan foi novamente criticado por ter chamado uma jornalista de "mulher sem-vergonha", depois que ela perguntou a um de seus adversários se na Turquia é possível questionar as autoridades.