Vendedor de chá passa por uma linha de policiais montando guarda em uma estrada de Nova Delhi: protestos se intensificaram rapidamente e se espalharam para outras cidades (Mansi Thapliyal/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de dezembro de 2012 às 09h11.
Nova Délhi - As autoridades indianas bloquearam nesta segunda-feira o movimento no centro da capital, Nova Délhi, fechando ruas e estações de trem em uma tentativa de restaurar a lei e a ordem depois que a polícia enfrentou manifestantes enfurecidos pelo estupro de uma moça por uma gangue.
Em um raro discurso na televisão, o primeiro-ministro Manmohan Singh pediu calma depois dos confrontos do fim de semana em Nova Délhi e prometeu punir os responsáveis pelo "monstruoso" crime de estupro.
O governo de Singh, frequentemente acusado pelos críticos de estar fora de contato com as aspirações da maioria dos indianos, foi pego de surpresa com a profundidade da indignação popular.
Os protestos se intensificaram rapidamente e se espalharam para outras cidades. A Índia é considerada um dos lugares mais perigosos do mundo para as mulheres.
Em vez de canalizar a indignação, o governo se viu na defensiva por causa do uso da força contra os manifestantes e as queixas de que pouco tem feito em seus oito anos no poder para criar um ambiente mais seguro para as mulheres.
São os maiores protestos na capital desde 2011, quando houve manifestações contra a corrupção que abalou o governo.
"As pessoas não estão reagindo a apenas a um caso de estupro. Eles estão agindo assim por causa do mal-estar geral, da frustração com as autoridades. Há um sentimento de que a liderança é completamente desconectada (da população)", disse o analista político Neerja Chowdhury.
A polícia armou barricadas nas estradas que levam ao India Gate, um imponente memorial de guerra no estilo do Arco do Triunfo, no centro da cidade, que se tornou um centro dos protestos, em sua maioria de estudantes universitários. Várias estações de trem foram fechadas, paralisando toda a cidade e seu entorno, onde habitam 16 milhões de pessoas.
Os protestos ofuscaram um visita oficial do presidente russo, Vladimir Putin, e interromperam sua programação.
A vítima do ataque de 16 de dezembro, uma moça de 23 anos, foi espancada, estuprada por quase uma hora e jogada para fora de um ônibus em movimento, em Nova Délhi. Ela ainda estava em estado crítico, respirando por aparelhos, disseram os médicos.
No fim de semana a polícia usou cassetetes, gás lacrimogêneo e canhões de água contra os manifestantes no entorno da capital. Protestos e vigílias à luz de velas também ocorreram em outras cidades da Índia, mas essas demonstrações têm sido mais tranquilas.
"Apelo a todos os cidadãos interessados em manter a paz e calma. Garanto-lhes que vamos fazer todos os esforços possíveis para garantir a segurança das mulheres neste país", disse Singh no discurso televisionado à nação.
Singh vem sendo criticado por ter permanecido em silêncio desde o estupro. Ele emitiu uma declaração pela primeira vez no domingo, uma semana após o crime. A líder do Partido do Congresso, que detém o governo, Sonia Gandhi, reuniu alguns dos manifestantes para ouvir suas demandas.
Comentários de analistas políticos, sociólogos e manifestantes sugerem que o estupro tocou nas profundezas da frustração dos indianos que consideram o governo fraco em questões sociais e econômicas.
"Há uma enorme raiva. As pessoas estão profundamente incomodadas porque, apesar de tantos incidentes, não houve muitas respostas do Estado e do governo", disse o ativista social Ranjana Kumari, diretor do Centro de Pesquisa Social em Nova Délhi.
Nova Délhi tem o maior número de crimes sexuais entre as principais cidades da Índia, com um estupro, em média, a cada 18 horas, de acordo com dados da polícia. Uma pesquisa mundial da Thomson Reuters Foundation em junho constatou que a Índia era o pior lugar do mundo para ser mulher por causa de altas taxas de infanticídio, casamento infantil e escravidão.
Desde o estupro da semana passada, as autoridades prometem um melhor patrulhamento da polícia para garantir a segurança das mulheres que regressam do trabalho e dos distritos de lazer, mais ônibus à noite, e julgamentos rápidos em casos de estupro e agressões sexuais.
No entanto, os manifestantes consideram essas medidas insuficientes e querem uma posição mais firme do governo.