Praça da Independência de Kiev: manifestantes propuseram ao Parlamento que aprove nesta quinta Executivo liderado por Arseni Yatseniuk (Louisa Gouliamaki/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2014 às 19h50.
Kiev - O movimento opositor forjado na Praça da Independência, bastião dos protestos que acabaram com a presidência de Viktor Yanukovich, deu sinal verde nesta quarta-feira a um governo de união nacional na Ucrânia liderado pelo pró-europeu Arseni Yatseniuk.
A aprovação deste Executivo pelos protagonistas dos protestos aconteceu no mesmo dia em que as novas autoridades ditaram uma ordem de busca e captura internacional para o cessado Yanukovich, em paradeiro desconhecido desde o dia 22 de fevereiro.
Os manifestantes propuseram ao Parlamento que aprove nesta quinta-feira um Executivo liderado por Arseni Yatseniuk e que dirigiria o país, pelo menos, até as eleições presidenciais de 25 de maio.
Dirigente do principal partido do país, Batkivschina (Pátria), Yatseniuk foi um dos líderes dos protestos contra Yanukovich e é considerado um político experiente apesar de seus 39 anos, já que foi ministro das Relações Exteriores e chefe do Parlamento, e um dos mais estreitos colaboradores da ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko.
Yatseniuk tinha destacado exatamente a importância que o Executivo se formasse com urgência para "tirar o país do buraco econômico" de maneira transparente.
Por isso pediu que a composição do governo provisório fosse submetido ao veredicto da Praça da Independência e defendeu integrar em seu seio vários dos líderes dos protestos que terminaram na semana passada em violentos distúrbios.
Após intensas consultas entre os partidos políticos e o Conselho da Praça, ou seja os opositores que dirigiram durante mais de três meses os protestos, a lista de ministros foi submetida ao veredicto das ruas.
Ao mais puro estilo da democracia popular, os mais de 20 mil manifestantes congregados na Praça da Independência analisaram um a um os integrantes do novo governo.
Cada membro do Executivo teve que se apresentar e escutar pacientemente a reação dos manifestantes, que aprovaram todos e cada um dos candidatos.
De fato, vários dos nomes mais destacados da Praça assumirão, se receberem o beneplácito do Parlamento, cargos no governo, como é o caso da médica Olga Bogolomets, que será vice-primeira-ministra, e do sequestrado ativista Dmitri Bulátov, que será titular de Esportes e Juventude.
A Praça também ficou com o Conselho de Defesa Nacional e o Ministério de Cultura, enquanto o Ministério da Defesa ainda está vago, mas pode acabar sendo ocupado por um representante dos veteranos da guerra do Afeganistão, muito ativos durante os protestos.
Entre outras coisas, no governo haverá um departamento anticorrupção e outro comitê de depuração, que se encarregarão de processar os envolvidos em casos de corrupção e na repressão violenta das manifestações.
À primeira vista, se trata de um governo com poucos tecnocratas e muitos líderes morais dos protestos contra Yanukovich.
Entre os especialistas está o titular de Interior, Arsen Avakov; o ministro das Relações Exteriores, Andrei Deshitsia, e o titular de Economia, Pavel Sheremet.
Os analistas consideram que a inclusão de tantas figuras que participaram ativamente na organização dos protestos é uma forma de homenagear os caídos na luta contra o antigo regime, que custou a vida de mais de 100 pessoas.
Os manifestantes da Praça da Independência emitiram ontem um comunicado no qual colocavam as condições que cada candidato a um posto no governo devia cumprir, entre elas não ter ostentado nenhum cargo público desde 2010, quando Yanukovich assumiu o poder.
Também não poderiam tentar entrar no Executivo aqueles que estejam na lista dos 100 homens mais ricos do país.
Segundo a Praça, os membros do governo de união nacional deviam ser "reconhecidos profissionais de impecável reputação e não funcionários de partido".
Nem a oposição nem a Praça escutaram a chanceler alemã, Angela Merkel, que aconselhou a formação de um governo provisório integrador, não só com antigos opositores, mas com representantes das regiões orientais.
Previsivelmente, este Executivo marcará os desígnios do país até a realização de eleições parlamentares antecipadas para a segunda metade deste ano.
Não estão no Executivo nem o boxeador Vitali Klitschko, que já anunciou sua candidatura aos pleitos presidenciais, nem a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, libertada da prisão no sábado passado, que não decidirá seu futuro político até terminar sua reabilitação na Alemanha.
Por sua vez, a Procuradoria Geral ditou uma ordem de busca e captura internacional contra Yanukovich, e as forças de segurança receberam a ordem de encontrar o ex-presidente foragido e levá-lo perante a Justiça, o que não será fácil, ainda mais depois que o Kremlin negou hoje ter conhecimento sobre seu destino.