Teste de covid-19 em Mumbai, na Índia: embora ainda baixo pelo tamanho da população, número de mortes e casos vem crescendo (Ashish Vaishnav/SOPA Images/Sipa USA/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 7 de abril de 2021 às 17h36.
Última atualização em 8 de abril de 2021 às 23h12.
O fracasso da Índia em examinar rapidamente as amostras de testes para Covid-19 em busca de novas variantes pode prejudicar a batalha do país contra o aumento recorde de casos. E cientistas alertam que os atrasos podem prejudicar desde a eficácia das vacinas até tratamentos hospitalares eficazes.
O país do sul da Ásia testou menos de 1% das amostras positivas, segundo dados do governo, em comparação com o Reino Unido, que sequenciou 8% das infecções, sendo 33% na última semana, disse o Consórcio Covid-19 Genomics UK. Os EUA informaram no mês passado que estavam sequenciando cerca de 4% de seus 400 mil novos casos semanais, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
A Índia registrou mais de 115 mil novos casos diários na quarta-feira, elevando o total para 12,8 milhões, atrás do Brasil e dos Estados Unidos.
Seu estado mais rico, Maharashtra, emergiu como epicentro, o que obrigou o governo a suspender todos os serviços não essenciais, ordenar que funcionários de empresas privadas trabalhem de casa, além de fechar shoppings e restaurantes em abril. Outros estados também impuseram medidas, embora nenhuma tão rigorosa.
Depois que novas variantes do Reino Unido foram descobertas em vários passageiros que chegavam ao país, a Índia formou um consórcio de 10 laboratórios estatais para sequenciar amostras de testes positivos em dezembro. No entanto, entre janeiro e março o país estudou apenas 11.064 das amostras, informou o Ministério da Saúde em coletiva de imprensa em 30 de março, o que corresponde a menos de 0,6% no período.
A Índia não tem dados suficientes sobre as novas variantes para explicar por que os casos diários multiplicaram por nove em relação aos cerca de 11 mil por dia no início de fevereiro, disse Bhramar Mukherjee, professora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan.
“Estamos essencialmente fazendo engenharia reversa para explicar as características da curva do vírus, já que não temos dados confiáveis sobre variantes de preocupação e vigilância genômica”, disse Mukherjee. “Quanto mais a infecção se espalhar, mais chances o vírus tem de mutar.”
Na Índia, foram detectados 807 casos relacionados a variantes do Reino Unido, 47 da cepa sul-africana e um da variante brasileira até 30 de março, segundo o Ministério da Saúde, segundo o qual os novos casos não têm relação com as variantes. Estudos sugerem que algumas dessas novas cepas são mais contagiosas, e evidências apontam que uma delas pode ser mais letal e outra causaria reinfecções.
Uma porta-voz do Ministério da Saúde não respondeu a pedidos de comentários por e-mail.