Incêndios: o terreno enegrecido pode conter as sementes de um plano que poderia não somente deter um ciclo de incêndios fatais, mas também ressuscitar a economia local (Rafael Marchante/Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de outubro de 2017 às 13h16.
Portugal - Grandes partes do interior de Portugal são lugares desolados atualmente, com árvores queimadas até onde a vista alcança e um cheiro acre pairando no ar.
Sessenta e quatro pessoas morreram nos incêndios florestais do verão deste ano, o pior desastre natural do país no passado recente. Três meses após o mais grave deles, é difícil imaginar alguma coisa voltando a crescer nas colinas nos arredores de cidades como Mação.
Mas o terreno enegrecido pode conter as sementes de um plano que poderia não somente deter um ciclo de incêndios fatais, mas também ressuscitar a economia local com fazendas comerciais e projetos de silvicultura.
No cerne da questão estão tradições antigas de administração da terra, composta principalmente de lotes pequenos que se tornaram um risco de incêndio desde que foram abandonados por gerações mais novas de proprietários de terrenos que se mudaram para as cidades.
Os moradores locais dizem que precisam que o governo ajude a transformar os lotes em unidades economicamente viáveis que darão aos donos ausentes um incentivo para construir barreiras corta-fogo e limpar a vegetação rasteira altamente inflamável e os eucaliptos selvagens.
"Precisamos de uma grande revolução para fazer com que isso não volte a acontecer, mas não sei se alguém a fará", disse Paula Fernandez, prefeita do vilarejo de Castelo, atingido um dia depois que os incêndios tiveram início ao norte de sua paróquia em junho.
A própria Paula e dois colegas combateram as chamas com um pequeno caminhão de água porque os bombeiros nunca apareceram. Eles salvaram o vilarejo, mas não a floresta circundante, parte dos 45 mil hectares destruídos só naquela área em meros cinco dias.
Incentivado a agir devido às fatalidades e ao 1 bilhão de euros de prejuízo com os incêndios, o governo concordou em criar um arcabouço legal para fundir os lotes que incluirá um cartório central, fundos federais e incentivos fiscais para proprietários de terras.
O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luis Capoulas Santos, disse à Reuters que sua pasta tem 600 milhões de euros disponíveis para uma recuperação florestal até 2020.
Haverá "um pacote de benefícios fiscais generoso e atraente que almeja incentivar e estimular a criação destas entidades", disse ele em um email.