Um gigantesco incêndio florestal continua ameaçando neste sábado a cidade de Valparaíso (Chile), declarada em estado de emergência e com condições atmosféricas consideradas desfavoráveis para os trabalhos de extinção.

Durante a madrugada, no entanto, os bombeiros conseguiram conter o avanço das chamas nesta localidade portuária carente.

Uma mulher de 67 anos faleceu vítima de parada cardíaca em um hospital da cidade. As autoridades atribuíram a morte ao incêndio.

"Tomamos a decisão de decretar estado de emergência em Viña del Mar e Valparaíso, portanto, alerta vermelho nessas duas localidades, e a retirada preventiva em um espectro de 4.000 a 16.000 pessoas, dependendo do avanço do incêndio", declarou o vice-ministro chileno do Interior, Mahmoud Aleuy, em entrevista coletiva na noite de sexta-feira.

"Neste momento, a situação é de tranquilidade. Não temos informação de risco iminente sobre as zonas povoadas", declarou, por sua vez, Ronald Mcintyre, militar encarregado da segurança nas duas localidades.

Já o diretor regional do Escritório Nacional de Emergências (Onemi), Maurício Bustos, afirmou que o incêndio está tecnicamente ativo, mas a intensidade das chamas diminuiu consideravelmente".

No entanto, as condições climáticas esperadas para o resto do dia são desfavoráveis e poderão colaborar com a propagação do fogo, atingindo temperaturas de 27 graus e ventos de cerca de 30 km/h.

O incêndio começou em uma área de pastagens e bosque de pinheiros de difícil acesso, ao redor de uma importante via conhecida como "Camino La Pólvora". Essa estrada liga o porto de Valparaíso, um dos principais do país, a outras localidades dessa área.

Devido às altas temperaturas do verão austral e ao forte vento na região, o fogo se expande rapidamente e já destruiu cerca de 500 hectares. Algumas casas foram atingidas pelas chamas, a poucos quilômetros de Valparaíso.

A retirada preventiva dos moradores aconteceu em povoados próximos a Valparaíso. Nenhuma casa foi destruída.

Mas o incidente acontece na mesma área em que há um ano, em 12 de abril de 2014, outro incêndio deixou 15 mortos, mais de 12 mil desabrigados e três mil residências destruídas. Foi a pior tragédia desse tipo neste porto chileno.

O incêndio levou oito dias para ser controlado, mas os trabalhos de reconstrução das zonas afetadas continuam até hoje.

A cidade de Valparaíso é um dos pontos turísticos mais visitados do Chile e declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. A topografia escarpada e moradias precárias favorecem a propagação do fogo.

Localizada no litoral Pacífico a 120 km de Santiago, a cidade é famosa pelas casinhas coloridas espalhadas em mais de 40 morros, formando um anfiteatro natural.

A cidade é visitada todos os anos por turistas que percorrem suas ruas e ladeiras entrelaçadas, onde numa das residências, agora um museu, viveu o poeta Pablo Neruda.

Com 270.00 habitantes, a cidade-sede do Congresso Nacional do Chile registra um nível de pobreza superior à média nacional e precisa de um maior desenvolvimento econômico.

Valparaíso teve um papel importante na segunda metade do século XIX, quando seu porto era escala obrigatória dos barcos que viajavam do Oceano Atlântico para o Pacífico, atravessando o perigoso Estreito de Magalhães.

Os imigrantes que chegavam da Europa pra povoar o país converteram Valparaíso, chamada de "A Pérola do Pacífico", na cidade mais cosmopolita do Chile.

A principal fonte de renda da cidade é a visita de turistas atraídos pelos vestígios de um passado glorioso que terminou no início do século XX depois da abertura do Canal do Panamá.