Repórter
Publicado em 27 de março de 2025 às 15h46.
As tarifas adicionais de 25% sobre importações de automóveis, anunciadas por Donald Trump, entrarão em vigor em 3 de abril e deverão afetar montadoras no mundo inteiro, resultando em preços mais altos para os consumidores nos Estados Unidos.
Dentro da União Europeia, a Alemanha será o país mais impactado pelas tarifas. Em 2024, os EUA importaram US$ 24,8 bilhões em veículos alemães, representando quase metade do total de US$ 52,3 bilhões adquiridos do bloco europeu, de acordo com informações da Bloomberg.
Muitas marcasalemãs já possuem fábricas nos EUA, produzindo tanto para o mercado interno quanto para exportação. No entanto, com as novas tarifas, Porsche e Mercedes-Benz estarão entre as mais prejudicadas, podendo registrar perdas estimadas em 3,4 bilhões de euros (US$ 3,7 bilhões). Segundo informações do site CNBC, as ações dessas montadoras caíram 2,6% e 2,7%, respectivamente.
A União Europeia estuda possíveis retaliações e uma escalada na guerra comercial pode agravar os desafios enfrentados pelo setor automotivo, que já lida com custos elevados e demanda enfraquecida. Para minimizar os impactos, as montadoras poderão repassar o aumento de custos aos consumidores ou expandir suas operações dentro dos EUA.
Veja como cada fabricante será afetada por essa nova medida do governo Trump.
A Nissan, que já passa por um período desafiador, poderá ser a montadora japonesa mais prejudicada, enfrentando uma possível queda de 56% em seu lucro operacional.
Apesar de contar com quatro fábricas, em Kentucky, Indiana, Mississippi e Texas, além de unidades de produção de motores na Virgínia Ocidental e no Alabama, a Toyota ainda depende de importações para cerca de metade dos veículos que comercializa nos EUA. A empresa garantiu que suas operações no México estão totalmente alinhadas com as regras do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
Segundo informações da Bloomberg, analistas do Goldman Sachs do Japão preveem que as novas tarifas provoquem uma queda de 6% no lucro operacional projetado da companhia para o ano fiscal.
A Hyundai está entre as montadoras mais vulneráveis às novas tarifas. Embora tenha fábricas no Alabama e na Geórgia e tenha anunciado um plano de expansão de US$ 21 bilhões nos EUA, a empresa e sua afiliada Kia ainda dependem fortemente de importações.
Em 2024, mais de 1 milhão de veículos foram trazidos para o mercado americano, representando mais da metade de suas vendas no país, de acordo com a Global Data.
Em entrevista à Bloomberg, Hyuk Jin Yoon, analista da SK Securities em Seul, afirmou que, se a tarifa de 25% for implementada, Hyundai e Kia poderão arcar com até 10 trilhões de wons (US$ 7 bilhões) anuais em taxas nos EUA. Esse valor equivale a quase 40% do lucro operacional total das montadoras em 2024.
A Porsche pode ser uma das montadoras mais vulneráveis às tarifas impostas por Trump, especialmente em um momento de queda nas vendas na China. Focada em veículos de luxo, como esportivos, SUVs e sedãs de alto desempenho, a marca teve um crescimento constante nos EUA nos últimos 15 anos, tornando o país seu maior mercado, superando a China. No entanto, seus concessionários americanos dependem totalmente de importações, já que a empresa não possui fábricas locais.
Com um valor de mercado estimado em 44 bilhões de euros, a Porsche agora vale menos da metade do que em maio de 2023, quando suas ações atingiram o pico após um dos maiores IPOs da Europa em anos. A desvalorização crescente intensifica a pressão sobre o CEO Oliver Blume, que lidera tanto a Porsche quanto a Volkswagen.
Na China, a fraca demanda por veículos elétricos impactou a empresa, resultando em uma queda de 28% nas entregas no último ano. Nos EUA, porém, esse fator tem menos peso, já que a adoção de carros elétricos avança em um ritmo mais lento. Desde 2009, os americanos aumentaram as compras da Porsche a cada ano, com exceção de 2020, em razão da pandemia de Covid-19.
A Tesla, de Elon Musk, conta com grandes fábricas na Califórnia e no Texas, onde produz todos os veículos vendidos nos EUA, o que a protege das novas tarifas sobre importações de automóveis e componentes essenciais. Mas, a montadora não está imune aos impactos da medida.
Em uma publicação no X nesta quarta-feira, 26, Musk afirmou que as tarifas terão um efeito “significativo” sobre a Tesla. Em outra postagem, destacou que os preços das peças importadas utilizadas pela empresa sofrerão um impacto “não trivial.”
De acordo com um relatório de 2024 da Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário dos EUA, entre 60% e 75% dos componentes da Tesla são produzidos no país, dependendo do modelo. A maioria das peças restantes vem do México. No entanto, o documento não especifica o valor total dessas importações, tornando incerto o impacto financeiro exato das tarifas sobre a empresa.
No início deste mês, a BMW declarou que os conflitos comerciais entre Estados Unidos, Europa e China devem gerar um impacto de aproximadamente 1 bilhão de euros (US$ 1,078 bilhão) em seus custos este ano. No entanto, essa projeção não considerava as novas tarifas anunciadas por Trump.
A Stellantis tem uma rede de produção consolidada nos EUA, onde fabrica modelos das marcas Jeep, Dodge, Chrysler e Ram. No entanto, a montadora também será afetada pelas novas tarifas, pois produz os SUVs Jeep Compass e Wagoneer S no México, as minivans Chrysler Pacifica no Canadá e os modelos compactos Dodge Hornet e Fiat 500 na Itália.
A Ford deve ser menos afetada pelas novas tarifas de Trump em comparação com algumas concorrentes, pois cerca de 80% dos veículos que comercializa nos EUA são fabricados localmente. Ainda assim, a montadora pode enfrentar desafios, já que modelos como a picape Maverick, o SUV Bronco Sport e o elétrico Mustang Mach-E são produzidos no México.