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Por que o uso de jatos privados aumenta a cada ano nos EUA?

Demanda por jatos privados aumentou 53% desde 2019, elevando emissões de carbono e debate sobre subsídios públicos

Crescimento na demanda por jatos privados levanta debate sobre impacto ambiental.

Crescimento na demanda por jatos privados levanta debate sobre impacto ambiental.

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 11 de novembro de 2024 às 06h13.

Última atualização em 11 de novembro de 2024 às 06h27.

O uso de jatos particulares nos Estados Unidos registrou um crescimento significativo nos últimos anos. A quantidade de milhas voadas aumentou em 53% entre 2019 e 2023, segundo um estudo recente publicado na revista científica Nature.

Esse aumento se deve a dois fatores principais: a pandemia de Covid-19, que motivou a busca por opções de voo mais exclusivas, e a oferta crescente de serviços de jatos sob demanda, que tornaram esse tipo de transporte mais acessível para o público com alto poder aquisitivo, de acordo com reportagem da Business Insider.

Em 2020, no auge da pandemia, o tráfego aéreo comercial e privado foi drasticamente reduzido devido às restrições e ao medo do contágio. No entanto, enquanto as companhias aéreas comerciais experimentavam uma queda de 27% na taxa de passageiros entre 2019 e 2021, o setor de jatos particulares mostrava uma trajetória oposta: o número de voos em jatos privados aumentou de cerca de 3,8 milhões para aproximadamente 4,4 milhões no mesmo período.

Na mesma época, a indústria de aviação privada testemunhou uma diversificação nos modelos de acesso a jatos particulares. Hoje, existem opções como propriedade fracionada, serviços de compartilhamento, assinaturas em empresas de jatos e reservas instantâneas por meio de aplicativos móveis. Com esses novos serviços, voar em jato privado se tornou mais conveniente e, em alguns casos, mais acessível.

Por exemplo, serviços como Blade permitem reservar uma viagem entre Nova York e Miami por cerca de US$ 1.700 (cerca de R$ 9,8 mil), um valor próximo de uma passagem de primeira classe em voos comerciais. Esse tipo de conveniência atrai um público interessado em economizar tempo e ter uma experiência de viagem mais personalizada.

Demanda segue alta

Embora o pico de viagens em jatos particulares tenha ocorrido em 2022, a demanda se manteve 17% maior em 2023 em comparação com 2019. Contudo, a indústria observa uma leve retração na demanda em 2024, resultado do aumento dos custos, mas ainda espera que o número de jatos privados cresça em quase um terço até 2033.

Paralelamente, a maior frequência de voos em jatos particulares tem implicado em impactos ambientais consideráveis. Segundo um estudo da Nature, as emissões de carbono provenientes de jatos particulares aumentaram 46% entre 2019 e 2023, pois essas aeronaves emitem até 14 vezes mais poluentes por passageiro do que voos comerciais.

Os Estados Unidos são o maior mercado global de aviação privada, concentrando cerca de 69% de todos os jatos particulares do mundo, apesar de representarem apenas 4% da população global. Em parte, essa expansão é possível devido aos subsídios indiretos oferecidos pelo governo dos EUA.

Relatório do Institute for Policy Studies de 2023 apontou que, embora jatos particulares correspondam a um sexto dos voos controlados pela Administração Federal de Aviação (FAA), eles contribuem com apenas 2% dos impostos que financiam a agência. Esses voos utilizam quase 3.000 aeroportos menores que não são atendidos por companhias aéreas comerciais, mas recebem verbas da FAA.

O aumento do uso de jatos particulares, apesar de representativo de uma maior demanda por viagens exclusivas, levanta questões sobre seu impacto ambiental e o custo indireto para os cofres públicos.

Analistas apontam que, embora o segmento atenda a um público disposto a pagar por conveniência e privacidade, a emissão de poluentes associada ao setor reforça o debate sobre a responsabilidade ambiental e o papel dos subsídios em setores de uso restrito.

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