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Por que o novo surto de mpox é diferente do último?

A nova cepa da varíola dos macacos é até dez vezes mais letal e se espalha de forma mais ampla, representando um desafio global significativo

Surto da varíola de macaco em 2024 é dez vezes mais letal que o do ano passado. (Getty Images/Getty Images)

Surto da varíola de macaco em 2024 é dez vezes mais letal que o do ano passado. (Getty Images/Getty Images)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 16 de agosto de 2024 às 07h52.

Última atualização em 16 de agosto de 2024 às 09h30.

O surto de mpox que está se espalhando pela África Subsaariana em 2024 é significativamente mais letal do que o que varreu o mundo em 2022. A cepa responsável por essa nova emergência de saúde pública global é até dez vezes mais mortal do que a anterior, de acordo com especialistas em reportagem a The Wired. Apesar de o surto anterior ter causado alarme, ele foi rapidamente controlado em muitas regiões, especialmente em países do hemisfério norte. No entanto, a situação atual é bem diferente.

Em maio de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência de saúde pública relacionada à varíola dos macacos, anteriormente conhecida como monkeypox. No entanto, pouco mais de um ano depois, a OMS foi forçada a reverter essa decisão diante de um surto muito mais grave que se alastra por boa parte da África Subsaariana.

Aumento das mortes

Desde janeiro de 2024, mais de 15 mil casos de mpox e 461 mortes foram relatados no continente africano. O vírus, que anteriormente era endêmico em países como a República Democrática do Congo (RDC), agora se espalhou para 13 outras nações africanas, incluindo Ruanda, Quênia, Burundi e Uganda, onde a doença nunca havia causado impacto significativo antes.

O surto atual tem suas origens em cidades mineradoras do leste da RDC, como Kamituga, onde trabalhadores migrantes que frequentavam profissionais do sexo foram os primeiros a serem infectados. Ao retornarem para seus países de origem, como Ruanda, Uganda e Burundi, esses trabalhadores espalharam o vírus ainda mais. Essa dinâmica de contágio mostra como o vírus está adaptado para se espalhar em comunidades humanas, além de suas tradicionais fontes zoonóticas.

Especialistas em doenças infecciosas, como Boghuma Titanji, professora associada da Universidade Emory, nos Estados Unidos, atribuem a gravidade do surto atual à falta de vigilância e controle adequado após o surto de 2022. A cepa que circula agora, conhecida como clado 1, é notoriamente mais letal, especialmente para grupos populacionais vulneráveis, como crianças menores de 5 anos, mulheres grávidas e pessoas imunocomprometidas.

A varíola dos macacos existe em dois principais subtipos, clado 1 e clado 2. O clado 1, responsável pelo surto atual, pode ter uma taxa de mortalidade de até 10%, muito superior à taxa de mortalidade de menos de 1% observada durante o surto global de 2022, causado pelo clado 2. Esse aumento na mortalidade é particularmente preocupante, pois o novo surto está se espalhando de forma mais ampla, atingindo populações que antes não eram afetadas.

Ao contrário do surto de 2022, que afetou predominantemente populações homossexuais, os dados indicam que a nova cepa está sendo transmitida de maneira mais abrangente. Inicialmente, o vírus se espalhou através de redes sexuais, mas agora está sendo transmitido para familiares e outras pessoas em contato com fluidos corporais de indivíduos infectados. Essa mudança no padrão de transmissão representa um risco maior de disseminação regional e global.

Para conter o surto de mpox, é necessário um programa massivo de vigilância, envolvendo rastreamento de contatos, isolamento, testes e campanhas de imunização em larga escala. Embora existam vacinas eficazes, como a produzida pela empresa dinamarquesa Bavarian Nordic, seu alto custo e a escassez de doses representam desafios significativos para os países africanos. A Bavarian Nordic e a Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências de Saúde da Comissão Europeia anunciaram a doação de 215 mil doses de vacina para o continente africano, mas especialistas afirmam que esse número é insuficiente.

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