Brics: Brasil veta entrada da Venezuela após tensões diplomáticas e repressão política (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 23 de outubro de 2024 às 20h32.
O Brasil decidiu vetar a entrada da Venezuela no Brics após diversas tentativas frustradas de diálogo com o governo de Nicolás Maduro, que não atendeu às demandas brasileiras relacionadas ao aumento da repressão política no país. O governo Lula, que fez reiterados apelos a Caracas, considera inviável apoiar a adesão venezuelana ao bloco em meio às atuais tensões diplomáticas.
Na última semana, os chanceleres Mauro Vieira, do Brasil, e Iván Gil, da Venezuela, conversaram por telefone. Um dos pedidos principais foi o salvo-conduto para seis venezuelanos asilados na Embaixada da Argentina em Caracas, sob custódia brasileira. O governo venezuelano, no entanto, não respondeu positivamente a essa demanda antiga.
Desde as eleições de 28 de julho, o Brasil intensificou os pedidos de cooperação ao governo venezuelano, especialmente em relação ao salvo-conduto dos asilados, sendo quatro deles ligados à líder opositora María Corina Machado. Em setembro, Vieira voltou a discutir o tema com Gil durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, mas novamente sem sucesso.
Com as contínuas negativas da Venezuela, uma fonte do governo brasileiro destacou que “não havia a menor condição de premiar a Venezuela com uma incorporação ao Brics”.
Além das negativas, a situação foi agravada por declarações do procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, que acusou o presidente Lula de ser um "agente da CIA". Tal afirmação causou profundo mal-estar no Planalto e azedou ainda mais as relações bilaterais.
Apesar de não vincular diretamente suas demandas à adesão da Venezuela ao Brics, o Brasil deixou claro que não apoiaria a inclusão de novos países na cúpula de 2023, realizada na África do Sul. A posição foi reforçada por Celso Amorim, assessor internacional de Lula, que ressaltou a impossibilidade de apoiar a adesão venezuelana devido às tensões diplomáticas.
Mesmo com a exclusão da Venezuela da lista de possíveis novos integrantes do bloco, dois outros países latino-americanos foram mencionados: Cuba e Bolívia. Embora a Venezuela possuísse um perfil mais alinhado ao bloco, o contexto pós-eleitoral e a repressão política impediram o apoio do Brasil, ao menos temporariamente. “A diplomacia é um céu nublado, pode abrir mais pra frente”, declarou uma fonte brasileira, destacando a possibilidade de mudanças futuras nas relações com a Venezuela.