Editor de Macroeconomia
Publicado em 6 de janeiro de 2024 às 11h50.
Última atualização em 8 de janeiro de 2024 às 19h09.
Com o ex-presidente Donald Trump liderando com folga na corrida pela nomeação para concorrer à presidência nas eleições dos Estados Unidos pelo partido Republicano, fica a dúvida para quem acompanha a disputa presidencial no país: por que, afinal, as primárias do partido Republicano importam e ganham tanto destaque no noticiário político?
A poucos dias das primeiras votações republicanas nos estados de Iowa — onde ocorrerá um caucus, e não uma primária — e New Hampshire, nos dias 15 e 23 de janeiro, respectivamente, os principais adversários do ex-presidente, entre eles Ron DeSantis, governador da Flórida, e Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul, insistem que ainda há muito em jogo na disputa pelo segundo lugar.
Eles citam dados de pesquisas que mostram que os eleitores se voltarão contra Trump nos principais estados indecisos, caso ele seja condenado em qualquer um dos quatro julgamentos criminais que enfrenta enquanto faz campanha para um segundo mandato na Casa Branca.
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Na avaliação de Mauricio Moura, sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, especializado em eleições globais, e professor da Universidade George Washington, o futuro de Trump — e seus processos judiciais — é um dos eixos mais relevantes para o pleito. "Uma das maiores questões dessas eleições é se Trump poderá ou não concorrer, além de como vão se desenrolar as ações judiciais em curso contra ele", diz.
O republicano de 77 anos enfrenta dois tipos de obstáculos com a Justiça norte-americana. De um lado, ele responde a quatro processos criminais, que somam 91 acusações, e dois processos civis.
Os processos na Justiça não impediriam o bilionário de disputar as eleições presidenciais de 2024. Não há, nos EUA, regras que impeçam alguém condenado a disputar eleições, como é o caso do Brasil, onde vigora a Lei da Ficha Limpa.
Em dezembro, uma nova frente judicial se abriu quando a Suprema Corte do estado do Colorado, nos Estados Unidos, decidiu que ele é inelegível e o impediu de disputar as primárias no estado. A decisão tem como base uma interpretação da 14ª Emenda, que desqualifica pessoas que se envolveram em insurreição contra a Constituição depois de terem prestado juramento de apoio a ela.
Desde então, outro estado, o Maine, decidiu em sentido similar, e ampliaram a pressão para que a Suprema Corte do país se posicione sobre o caso. No caso do Maine, a decisão foi tomada por Shenna Bellows, secretária de Estado local, responsável pela organização das eleições.
Em alta nas pesquisas de opinião e com o respaldo de figuras importantes, Nikki Haley vem se posicionando para capitalizar uma improvável — mas não inconcebível — implosão da candidatura de Trump.
Pesquisas mostram que a republicana derrotaria o atual presidente, o democrata Joe Biden, em novembro, por margens maiores que Trump ou o governador da Flórida, Ron DeSantis, seu adversário mais próximo. "Os cenários políticos podem mudar rapidamente e as eleições primárias muitas vezes têm viradas inesperadas", disse em entrevista à AFP o principal estrategista republicano, Charlie Kolean.
Embora Trump esteja no centro de inúmeras acusações, incluindo a de que liderou uma conspiração criminosa para impedir que Joe Biden se tornasse presidente após a sua eleição legítima, nenhum dos candidatos se arriscou a utilizar o momento crítico como uma forma de autopromoção.
Isto levou muitos analistas a considerarem que seus adversários — lista que inclui também o jovem empresário Vivek Ramaswamy e o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie — desistiram de encará-lo.
Em vez disso, teriam em vista o ano de 2028, quando ocorre a próxima eleição, ou, no caso do recém-chegado político Ramaswamy, obter uma posto em um eventual segundo mandato de Trump.
Embora o empresário os ultrapasse em cada um dos quatro estados onde haverá nomeações antecipadas, tanto DeSantis como Haley acreditam que têm chances de derrotá-lo nas primárias.
O governador da Flórida, um populista linha-dura ao estilo Trump, permanece em segundo lugar em Iowa e tem esperanças de obter uma forte votação em New Hampshire.
Mais moderada, Haley se vê impulsionada por seus sólidos desempenhos nos debates entre os pré-candidatos e pelo importante apoio que recebe da comunidade empresarial e atores políticos. Evitando as batalhas culturais alimentadas na campanha de DeSantis, Haley enfatizou a necessidade de reformar o sistema de segurança social, encontrar um consenso político sobre o aborto e reforçar a ajuda militar à Ucrânia na sua luta contra a Rússia.
O mais isolacionista DeSantis, por outro lado, enfatiza o seu sucesso na imposição de uma agenda conservadora na Flórida, por exemplo em termos de educação ou na adoção de restrições severas ao aborto.
Segundo Henri Olsen, pesquisador-sênior da organização conservadora Centro de Ética e Políticas Públicas, as primárias podem servir para fornecer informações sobre o futuro de um Partido Republicano pós-Trump. "Deveríamos estar interessados porque, por mais improváveis que sejam, às vezes acontecem milagres", disse à AFP.
Além disso, destacou que o candidato republicano para 2028 poderá sair destas eleições internas.
Apesar disso, analistas concordam que tanto Haley quanto DeSantis têm um longo caminho a percorrer, visto que a última pesquisa da influente Des Moines Register indicou que em Iowa 51% dos eleitores republicanos preferem Trump, frente aos 43% registrados em outubro.
"Não é apenas sobre quem ficará em segundo, mas de moldar o futuro do Partido Republicano", analisou Kolean à AFP. "Compreender as posições e as bases de apoio de Haley e DeSantis revela tendências e facções emergentes dentro do partido, que poderiam influenciar em seu rumo para além de 2024."
Os postulantes à indicação do Partido Republicano à Presidência dos EUA começam sua campanha bem antes da disputa oficial. Na Convenção Nacional Republicana, delegados de cada estado indicam para votar quem eles querem como candidato do partido — e o vencedor disputará a presidência do país.
Antes dessa decisão, uma grande disputa acontece dentro do partido. Até aqui, diversos pré-candidatos já saíram do páreo. O próximo grande embate acontece na próxima quarta-feira, 6, no debate que acontecerá na Universidade do Alabama em Tuscaloosa.
Em 15 de janeiro, acontecerá o primeiro grande teste eleitoral dos postulantes à candidatura pela Presidência no partido Republicano: o caucus republicano do estado de Iowa, que representará a primeira prévia para as eleições presidenciais do ano que vem. A votação ocorrerá na terceira segunda-feira de janeiro, quando será celebrado também o feriado em memória de Martin Luther King Jr.
Pouco mais de uma semana após Iowa será a vez das primárias do estado de New Hampshire. De fevereiro a junho, os outros 48 estados e mais territórios norte-americanos fazem suas primárias. Em março, acontece a Super-Terça (Super Tuesday), quando diversos estados fazem eleições no mesmo dia. Em 2024, essa data acontecerá no dia 5 de março e votarão 12 estados, segundo o site Ballotpedia.
Com AFP.