Frasco de etanol em análise laboratorial. (Arquivo)
Vanessa Barbosa
Publicado em 6 de junho de 2011 às 21h20.
São Paulo – De um lado, a energia renovável e limpa dos biocombustíveis. Do outro, a energia fóssil e finita dos combustíveis derivados do petróleo. Duas fontes antagônicas, mas com um desafio comum: suprir a crescente demanda energética mundial do setor de transporte. Por isso, não é de causar surpresa que as maiores companhias globais de petróleo e gás tenham uma queda pela energia verde, cada vez mais apontada como a fonte que deverá abastecer a economia de baixo carbono.
“Longe do que se pensa, os biocombustíveis não são uma ameaça à indústria do petróleo. Eles são mais um aliado para garantir o suprimento de energia para o setor de transporte”, afirma Mark Gainsborough, vice-presidente de Portfólio Estratégico e Energias Alternativas da Shell, que participou nesta segunda (6) do Ethanol Summit, em SP, evento da indústria sucroenergética para discutir os desafios e oportunidades do setor no Brasil e no mundo.
A petrolífera desenvolve pesquisas sobre tecnologias em biocombustível há pelo menos dez anos. “Temos quatro equipes centradas nisso e parcerias com universidades pelo mundo”, conta o executivo. Em agosto passado, a Shell fechou um acordo com a Cosan, maior produtora mundial de açúcar e álcool, para criação de uma joint-venture, que foi concluída na semana passada. “Se queremos proteger o futuro, precisamos criá-lo já”, diz.
Outra gigante do setor petrolífero, a BP também aparece como uma grande entusiasta da energia renovável. “Nossas projeções mostram que os biocombustiveis responderão por 9% da demanda energética dos transportes daqui a dez anos, devendo alcançar um crescimento anual na produção de 40% em 2020”, afirma Phil New, presidente da BP Biocombustíveis, que também participou do encontro. “Como uma empresa de energia, consideramos legítima nossa participação nesse processo”, defendeu.
Não é de hoje o interesse da petrolífera britânica no mercado brasileiro. A BP Biocombustíveis iniciou suas operações no país há três anos, com a compra de 50% da usina Tropical BioEnergia, em Goiás. E há dois meses, adquiriu o controle majoritário da CNAA, que tem duas usinas em operação por aqui. “Acreditamos que os biocombustíveis são a melhor alternativa e a mais viável no curto e médio prazo para atender a demanda por combustível renovável no mundo”, destacou Phil New.
De acordo com o presidente da Petrobrás Biocombustíveis, Miguel Rossetto, o Brasil deve ter uma liderança mais efetiva na coordenação de investimentos em combustíveis sustentáveis. “Entre 2009 e 2010 a Petrobrás investiu R$ 400 milhões em biocombustíveis e tecnologias ambientais”, destacou.
Aposta em novos produtos da cana
Para além dos biocombustíveis, algumas empresas do setor petrolífero apostam na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos da cana. É o caso da petrolífera francesa Total, que possui parceria com a Amyris para estudo de sistemas de conversão de moléculas de açúcar em produtos químicos renováveis. “Um dos nossos focos é produzir biocombustível para aviões”, diz Philippe Boisseau, presidente de Gás e Energia da Total. “Com esses novos produtos, atraímos mercados interessados em produtos verdes. Ao final da década, acreditamos que esse negócio pode representar até 10% do mercado sucroenergético mundial”, prevê.
Para o presidente da Khosla Ventures, Vinod Khosla, inovação é essencial nesse processo. Segundo ele, só os EUA serão capazes de produzir 300 bilhões de litros de biocombustíveis em 2030. “E o Brasil pode fazer mais. Mas é preciso se comprometer com os riscos”, alertou. “Não acredito que o etanol de cana de açúcar seja o combustível do futuro. Para mim, os biocombustíveis de segunda geração, como os hidrocarbonetos, serão mais importantes.