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Por que a ideia de tomar Gaza é uma mudança brusca na política dos EUA -e praticamente inviável

Trump sugeriu que os americanos assumam controle do território, ideia que foi rechaçada por diversos líderes globais

Destroços em Jabalia, no norte de Gaza, em 5 de fevereiro de 2025 (Omar Al-Qattaa/AFP)

Destroços em Jabalia, no norte de Gaza, em 5 de fevereiro de 2025 (Omar Al-Qattaa/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 17h08.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2025 às 17h15.

A proposta do presidente Donald Trump de que os Estados Unidos assumam o controle da Faixa de Gaza e retirem os 2,2 milhões de palestinos que vivem ali gerou fortes críticas nesta quarta-feira, 5. Uma medida do tipo, além de violar a lei internacional, significaria uma mudança radical da postura dos Estados Unidos, e também do próprio Trump.

Nas últimas décadas, nenhum líder dos Estados Unidos defendeu alguma ação do tipo. Pelo contrário: depois dos fracassos nas invasões e ocupações do Afeganistão e do Iraque, a maioria dos políticos americanos passou a defender que o país evitasse se envolver militarmente em conflitos no exterior. Afinal, a reconstrução de outros países gera altos custos financeiros e muitas mortes, com altas chances de fracasso.

As duas últimas invasões americanas, do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003), terminaram mal. Nos dois casos, foi relativamente rápido derrubar os governos considerados inimigos, mas em seguida vieram anos de esforços para tentar refazer estruturas públicas e criar democracias funcionais.

As saídas dos dois países deixaram traumas. Os americanos deixaram o Iraque em 2011 e, pouco depois, viram o grupo terrorista Estado Islâmico dominar partes do país. No Afeganistão, o resultado foi ainda pior: após 20 anos de ocupação, o Talibã retomou o controle do país antes mesmo de os militares americanos concluírem sua retirada.

Em 2021, as cenas de afegãos tentando se agarrar a aviões em movimento, na pista de decolagem, para fugir do país afundaram a popularidade do presidente Joe Biden. Na época, Trump voltou a repetir que os EUA não deveriam se envolver em guerras no exterior nem na reconstrução de países.

A proposta atual de Trump busca, ainda, mudar a forma como os EUA se relacionam com o conflito entre Israel e Palestina. Desde a criação de Israel, em 1947, os americanos deram apoio aos israelenses nos diversos conflitos travados com os palestinos, mas sem se envolver em controle de territórios.

Implantação muito difícil

A proposta de Trump foi duramente rejeitada por líderes de vários países e por entidades internacionais, o que reduz as chances de que possa de fato ser implantada.

A ONU apontou que as leis internacionais impedem que populações inteiras sejam forçadas a deixarem seus territórios. "É essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica", disse o secretário-geral Antonio Guterres, em comunicado.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, quase todos os países do mundo, incluindo os EUA, assinaram a Carta da ONU, um documento que funciona como uma constituição da entidade e que veta invasões territoriais. "Todos os membros devem evitar a ameaça ou uso da força contra a integridade territorial de qualquer Estado", diz a Carta. Atualmente, a Faixa de Gaza é reconhecida pela ONU como um território palestino sob ocupação militar israelense.

Países que desrespeitam a regra estão sujeitos a intervenções militares, feitas por coalizões internacionais ordenadas pela ONU. No entanto, quem autoriza as operações é o Conselho de Segurança, onde os EUA possuem poder de veto.

Além disso, a reconstrução de Gaza após os bombardeios feitos por Israel ao longo do último ano levará muitos anos. O UNEP (programa ambiental da ONU) estima que 1,9 milhão de pessoas, ou 90% da população de Gaza, foi desalojada. As redes de água e energia estão praticamente todas destruídas e foram geradas mais de 50 milhões de toneladas de entulho. Só para remover essa montanha de detritos poderá levar mais de 20 anos, prevê a entidade.

Trump sugeriu que países vizinhos, como Jordânia e Egito, recebessem os palestinos que vivem em Gaza, mas os dois países rejeitaram a ideia. Outros países do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, também se posicionaram contra. E, o mais importante, diversos líderes palestinos disseram que querem ficar em seu território.

No dia seguinte ao anúncio da ideia, nem Trump nem seus subordinados detalharam como a medida poderia ser implantada de fato, quanto custaria ou se há algum cronograma previsto, em mais um sinal de que a proposta foi lançada de improviso e que está distante de ser um plano efetivo. Em entrevista coletiva, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, descartou a possibilidade de envio de tropas americanas para Gaza. “O presidente ainda não se comprometeu com essa opção. Ele ainda não tomou essa decisão”.

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