Barricadas são vistas em um posto de controle militar na ponte Tongil, a estrada que leva à cidade de Kaesong, na Coreia do Norte, na cidade fronteiriça de Paju, em 14 de outubro de 2024. Os militares da Coreia do Sul disseram em 14 de outubro que estavam "totalmente prontos" para responder depois que a Coreia do Norte ordenou que as tropas na fronteira se preparassem para atirar em uma disputa crescente sobre voos de drones para Pyongyang. (JUNG YEON-JE/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 16 de outubro de 2024 às 07h41.
Última atualização em 16 de outubro de 2024 às 07h50.
A Coreia do Norte dinamitou trechos das estradas que ligam o país à vizinha do Sul, nesta terça-feira, dias depois de anunciar que iria bloquear permanentemente a sua fronteira, segundo as autoridades militares sul-coreanas. Os militares do país divulgaram vídeos mostrando as forças do Norte explodindo seções de duas rotas importantes. Em resposta, as forças armadas sul-coreanas dispararam “tiros de resposta”
no seu próprio território.
O acirramento das tensões ocorre justamente quando as relações entre Pyongyang e Seul atravessam um dos piores momentos dos últimos anos, com o governo do Norte fechando as agências dedicadas a uma eventual reunificação.
Abaixo, veja cinco perguntas e respostas para compreender porque a Coreia do Norte dinamitou as estradas que a ligavam ao Sul e a recente escalada de tensões na península.
Tal como noticiou nesta terça-feira o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul em comunicado, “a Coreia do Norte detonou partes das estradas Gyeongui e Donghae ao norte da Linha de Demarcação Militar” que separa os dois países.
O corredor rodoviário e ferroviário de Gyeongui liga a cidade fronteiriça sul-coreana de Paju, a oeste, com a cidade norte-coreana de Kaesong. Donghae, por sua vez, atravessa a demarcação entre Norte e Sul ao longo da costa leste.
O corte das rotas de transporte por parte de Pyongyang e a resposta do Sul ocorrem em um momento de tensões crescentes na península. Kim Jong Un, o líder supremo da Coreia do Norte, declarou a Coreia do Sul o "principal inimigo" do seu país este ano e, desde então, colocou minas terrestres, instalou barreiras antitanque e colocou mísseis capazes de transportar ogivas nucleares na área fortificada.
Além disso, em 9 de outubro, a Coreia do Norte anunciou que estava preparando-se para "cortar completamente as estradas e caminhos-de-ferro" e construir "fortes estruturas de defesa" em áreas próximas da fronteira, em resposta às manobras militares do sul e dos Estados Unidos.
O país justificou a decisão como um bloqueio permanente com o Sul, “o principal estado hostil e inimigo”, e como uma “medida de autodefesa para inibir a guerra e defender a segurança nacional”. Segundo especialistas, a decisão de cortar as estradas também responde a uma alteração constitucional recentemente aprovada, na qual se acredita que a Coreia do Norte redefiniu unilateralmente as fronteiras nacionais por ordem do líder Kim Jong-Un.
Sim. A tensão entre os dois países também aumentou no fim de semana, quando a Coreia do Norte acusou Seul de usar drones para lançar folhetos de propaganda sobre a capital, Pyongyang. O Executivo norte-coreano publicou fotos dos drones sobre o céu noturno da capital e fotos dos panfletos, nos quais se informa que o custo do relógio que Kim Jong-un usa ou de um dos casacos da sua filha permitiria comprar grandes quantidades de alimentos para o país em crise.
O exército sul-coreano negou ser responsável pelos voos, e acredita-se que por trás destas ações possam estar grupos de ativistas que enviam regularmente balões com este tipo de propaganda para o Norte, algo a que Pyongyang tem respondido com o envio de mais de 5.000 balões com lixo para o Sul desde maio.
No entanto, Pyongyang insiste que Seul é a culpada pelo incidente com drones e no domingo disse que oito brigadas de artilharia foram mobilizadas na Zona Desmilitarizada fronteiriça “para se prepararem para abrir fogo”, enquanto postos de observação aérea foram reforçados na capital. Pyongyang garantiu que drones de propaganda sul-coreanos se infiltraram três vezes no espaço aéreo da capital nos últimos dias.
A irmã do líder norte-coreano, aliás, emitiu nesta terça-feira um comunicado no qual afirma que Pyongyang obteve “evidências claras” de que o exército sul-coreano está por trás dos drones que chegaram a Pyongyang. “Os provocadores pagarão um preço alto”, alertou Kim Yo Jong.
O líder supremo Kim Jong-Un também realizou uma reunião de segurança nesta segunda-feira para formular um plano para uma “ação militar imediata” após o incidente do drone. Nessa reunião, as autoridades receberam um relatório sobre as “graves provocações do inimigo”, segundo a agência oficial KCNA. Na ocasião, Kim “expressou uma posição política e militar firme”. A Coreia do Norte também alertou que mais um drone seria considerado “uma declaração de guerra”.
As estradas e ferrovias entre as duas Coreias estão fechadas há anos, mas os especialistas dizem que a sua destruição envia uma mensagem clara de que Kim Jong-Un não está disposto a negociar com o Sul.
A destruição de estradas “é uma medida militar prática” do Norte, que poderia tentar erguer mais barreiras físicas ao longo da fronteira, disse à AFP Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos Norte-Coreanos de Seul. Na sua opinião, a destruição das estradas poderia ser o “trabalho preparatório para a construção daqueles muros”.
Por sua vez, Jenny Town, diretora do programa especializado 38North, ligado ao Stimson Center em Washington, afirmou em uma coletiva de imprensa em Seul que “esta ação simplesmente enfatiza como a Coreia do Norte vê atualmente a relação (com o Sul)”.
Town acredita que Pyongyang quer transmitir a noção de que “a relação entrou em uma fase fundamentalmente diferente” em comparação com a diplomacia que governou a península nas últimas três décadas. Ao mesmo tempo, afirmou que a explosão de estradas demonstra que, depois da recente alteração constitucional, o regime está “preparando o terreno” para estabelecer este novo tipo de relacionamento com o Sul.
Em resposta à explosão de estradas, o Exército sul-coreano disparou tiros ao sul da fronteira com o Norte na terça-feira. O Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul (JCS) "respondeu disparando ao sul da Linha de Demarcação Militar" depois de, por volta do meio-dia, horário local, detectar explosões no outro lado da fronteira, aparentemente com o objetivo de cortar trechos de estradas que correm paralelamente às linhas ferroviáras Gyeongui e Donghae, conforme relatado em um comunicado.
O JCS acrescentou que Pyongyang “está realizando atividades adicionais utilizando maquinaria pesada” e que não houve danos às suas instalações ou ao pessoal militar como resultado das atividades norte-coreanas. O Exército sul-coreano observou que está “fortalecendo a sua vigilância e postura de alerta” face aos movimentos do Norte.
Por sua vez, o Ministério da Unificação do Sul, responsável pelas relações com o Norte, manifestou nesta terça-feira a sua “firme condenação” à destruição dos trechos rodoviários e afirmou que Pyongyang “ainda tem a obrigação” de devolver os créditos concedidos por Seul para financiar estas infraestruturas.
“A explosão da parte norte das autoestradas Gyeongui e Donghae representa uma clara violação do acordo intercoreano”, afirmou o ministério em um comunicado, acrescentando que “toda a responsabilidade relacionada com estas detonações recai sobre a Coreia do Norte”.
O projeto para reconectar o Norte e o Sul por via ferroviária e rodoviária foi financiado com empréstimos sul-coreanos no valor de 133 milhões de dólares (cerca de R$ 751 milhões) que Pyongyang ainda não pagou, segundo o ministério. Em agosto passado, o Norte também desmantelou as linhas ferroviárias de Gyeongui e Donghae. Nenhuma destas linhas operou após a divisão da península, exceto em um teste piloto em 2007.