Bandeira de Cuba é vista na embaixada do país em Washington, Estados Unidos (Andrew Harnik/Pool/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de julho de 2015 às 16h35.
Washington - Os congressistas americanos se mostraram divididos em relação ao restabelecimento das relações com Cuba consolidada nesta segunda-feira com a reabertura da embaixada cubana em Washington.
"Este é um dia histórico, após 54 anos de isolamento e de embargo finalmente se restabelecem as relações diplomáticas e temos uma oportunidade para estabelecer uma ponte" entre ambos países, declarou aos jornalistas o representante democrata Raúl Grijalva, que em maio visitou Cuba junto com uma delegação do Congresso dos EUA.
Grijalva, que assistiu aos atos de restabelecimento das relações na sede da embaixada de Cuba em Washington, garantiu que "não necessariamente é preciso estar de acordo com a política do governo (de Cuba) ou sua ideologia para entender que tanto o povo cubano como o americano vão se beneficiar com isto".
O legislador pelo Arizona se mostrou convencido de que agora os temas do embargo e da base de Guantánamo vão ganhar mais atenção e previu que, à medida que "o povo americano se colocar mais a favor da normalização" das relações, surgirá uma iniciativa para suspender as sanções sobre Cuba.
"Acredito que a opinião pública (americana) vai mudar de modo que nos convença (ao Congresso) para que o embargo seja suspenso nos próximos dois ou três anos", comentou.
Por sua vez, o senador Bob Menéndez, também democrata, lembrou que, apesar da atenção se centrar hoje na reabertura das embaixadas, perdura o problema das violações dos direitos humanos em Cuba.
"Houve mais de 2.800 detenções por motivos políticos na ilha este ano, e não há nenhum sinal que indique que o regime (do presidente Raúl) Castro esteja disposto a começar a respeitar os direitos do povo cubano à liberdade de expressão, jornalismo independente ou o acesso a informação", declarou Menéndez.
Em sua declaração, o senador de origem cubana considerou que "as relações diplomáticas com os EUA são um privilégio", mas ressaltou que após o anúncio da negociação da normalização das relações, em 17 de dezembro do ano passado, "o governo cubano se negou a fazer qualquer mudança substancial para defender os princípios democráticos e os direitos humanos".
Nesse sentido, Menéndez criticou o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, e disse que com este acontecimento "continua validando o comportamento brutal do regime castrista".
Na mesma linha, o ex-governador republicano da Flórida e pré-candidato presidencial de seu partido para as eleições de 2016, Jeb Bush, se mostrou contrário ao reatamento das relações diplomáticas com Cuba.
"Obama se equivoca em sua pressa por restabelecer as relações com Cuba. Esta embaixada só serve para legitimar ainda mais um regime repressivo", opinou Jeb Bush em mensagem em sua conta oficial no Twitter por ocasião da reabertura de embaixadas.
"Precisamos de um presidente americano que vá a Havana apenas em solidariedade com um povo cubano livre", acrescentou.
Outro pré-candidato à presidência, o ex-governador democrata de Maryland, Martin O'Malley, escreveu no Twitter que, apesar da "histórica" abertura da embaixada americana em Havana, agora "o que mais importa são as ações, não as palavras".
O senador republicano Jeff Flake, que também esteve na cerimônia na embaixada cubana em Washington, antecipou que a colocação da bandeira americana na embaixada de seu país em Havana, prevista para o próximo mês, deve abrir passagem para a eliminação pelo Congresso das restrições que persistem entre os dois países.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, viajará para Cuba no próximo dia 14 de agosto para a cerimônia da colocação da bandeira americana na embaixada de seu país em Havana, segundo adiantou hoje a rede de televisão "CNN".
Flake, que no mês passado integrou uma missão de congressistas republicanos à ilha na qual se reuniram com o primeiro vice-presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, e com o chanceler, Bruno Rodríguez, disse que uma das primeiras iniciativas no Congresso será suspender a proibição de viagens aos americanos.
Esta iniciativa, segundo o senador republicano pelo Arizona, já conta "com 46 apoios no Senado", dos 100 que tem a câmara alta, "e vai conseguir mais respaldos", acrescentou Flake.
Sobre a confirmação do embaixador dos EUA em Cuba, Jeffery DeLaurentis, o legislador disse que, uma vez que Obama apresente sua designação ao Senado, certamente será confirmado.
"Vai haver alguns (senadores) que vão tentar bloquear a nomeação (...), mas quando os americanos puderem viajar legalmente a Cuba e puderem começar a fazer negócios legalmente em Cuba vão necessitar do mesmo nível de representação que têm no mundo todo e isso inclui ter um embaixador", comentou Flake.
Estados Unidos e Cuba consolidaram hoje o restabelecimento de suas relações diplomáticas após quase 55 anos de ruptura com a abertura em Washington da embaixada cubana e a colocação da bandeira cubana no edifício que desde 1977 abrigava o Escritório de Interesses.