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Políticas de ódio estimulam nova era de ativismo social, diz AI

A análise, que cobre 159 países, indica que as "políticas regressivas" inspiraram muitas pessoas a aderirem a batalhas de longa data

Protesto contra deportação de imigrantes nos EUA (Spencer Platt/Getty Images)

Protesto contra deportação de imigrantes nos EUA (Spencer Platt/Getty Images)

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EFE

Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 08h56.

Washington - As políticas de ódio implementadas por vários governos do mundo estimularam a abertura de uma nova era de ativismo social, segundo o relatório anual sobre direitos humanos da Anistia Internacional (AI) divulgado nesta quinta-feira.

A organização apresentou pela primeira vez o documento nos Estados Unidos, em Washington, para alertar que "os passos atrás" em direitos humanos dados pelo presidente Donald Trump "criam um perigoso precedente para outros governos".

"O claro movimento de ódio do governo americano em janeiro (de 2017) ao proibir a entrada de pessoas de vários países de maioria muçulmana preparou o terreno para um ano no qual os líderes levaram as políticas de ódio a suas mais perigosas conclusões", indicou o secretário-geral da AI, Salil Shetty.

"Vimos a máxima consequência de uma sociedade encorajada a odiar, a procurar bodes expiatórios e a temer as minorias na horrível campanha militar de limpeza étnica contra os rohingyas (minoria muçulmana) em Mianmar", afirmou Shetty.

Em seu relatório anterior, a Anistia Internacional alertou sobre o discurso do ódio como ameaça aos direitos humanos e agora constata que "o mundo está vendo as consequências aterrorizantes desta retórica", que pode "normalizar a discriminação em massa contra grupos marginalizados".

A outra face desta moeda é o "crescente movimento tanto de ativistas novos como experientes que fazem campanha por justiça social", algo que "oferece uma esperança real de reverter o caminho rumo à opressão".

"Há uma sensação palpável de que os movimentos de protesto estão em alta globalmente", ressaltou Shetty.

A análise, que cobre 159 países, indica que as "políticas regressivas" inspiraram muitas pessoas a aderirem a batalhas de longa data, com "grandes vitórias" como "o fim da proibição do aborto no Chile, os passos dados para o casamento igualitário em Taiwan e a vitória transcendental contra os despejos forçados de inquilinos em Abuja (Nigéria)".

Nesta nova onda de ativismo social se destaca a liderança das mulheres: a "Marcha das Mulheres" nos Estados Unidos, que repercutiu no mundo todo; o movimento "Me Too" (Eu Também, em tradução livre) contra o assédio e o abuso sexual, e a campanha latino-americana que surgiu na Argentina "Ni Una Menos" (Nem Uma a Menos, em tradução livre) denunciando a violência sexual.

No entanto, levantar a voz contra a injustiça "tem se tornado mais perigoso" e tem um preço muito alto em alguns países do mundo: "centenas" de ativistas foram assassinados em 2017.

Um dos "campos de batalha" cruciais é a liberdade de expressão, num momento no qual "líderes proeminentes estão dispostos a promover notícias falsas para manipular a opinião pública".

Os maiores "carcereiros" de jornalistas em 2017 foram Turquia, Egito e China, este último onde o ganhador do Prêmio Nobel Liu Xiaobo "morreu após ter sido preso por criticar o governo".

A própria Anistia Internacional enfrentou "ameaças" em seu trabalho na Hungria, assim como "detenções sem precedentes" de seus funcionários na Turquia.

Mesmo assim, a organização pede que continuem as manifestações contra "a retórica de ódio vista em slogans xenofóbicos em marchas nacionalistas na Polônia, a concentração supremacista em Charlottesville (EUA) e as medidas severas generalizadas contra a comunidade LGTBI da Chechênia até o Egito".

"As políticas de Trump podem ter marcado o início de uma nova era de retrocesso nos direitos humanos, mas não são únicas. Se olharmos para países como Austrália e Hungria, veremos que os líderes vêm tratando há muito tempo os refugiados e os imigrantes como problemas a serem evitados, e não como seres humanos com direitos que merecem nossa compaixão", assinalou Shetty.

Por outro lado, o relatório alerta que milhões de pessoas no mundo todo enfrentam um acesso cada vez mais precário à habitação, à comida e à saúde, uma situação que tem "enorme potencial para uma agitação social ainda maior" se não for combatida em sua origem.

"Da Venezuela ao Irã, estamos sendo testemunhas de uma formidável expansão do descontentamento social", opinou o ativista.

A Venezuela é um dos países apontados no relatório por enfrentar "uma das piores crises dos direitos humanos na história recente", com uma "situação política caótica" e "uma crise de abastecimento de alimentos e remédios que leva milhares de pessoas a protestar".

Em geral no mundo, a Anistia Internacional constatou um aumento no número de cidadãos que levantam sua voz e pedem justiça.

"Ao invés de tentar silenciar essas pessoas (...), os governos devem abordar suas preocupações e reduzir as restrições na imprensa e na sociedade civil", pediu a AI.

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