Crianças separadas dos pais na fronteira entre o México e os Estados Unidos: governo afirmou que começará logo este processo de reunificação (Brendan McDermid/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 14 de julho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 9 de agosto de 2018 às 14h47.
Eles entram na rodoviária em fila, carregando uma caixa azul-marinho com acessórios para suas tornozeleiras e, às vezes, uma sacola de plástico com uma muda de roupa ou uma criança pequena no colo.
Diariamente, o governo deixa na Rodoviária Central de McAllen, no Vale do Rio Grande do Texas, migrantes procedentes de El Salvador, da Guatemala e de Honduras que entraram nos EUA em busca de asilo. Eles recebem uma data para se apresentarem perante um juiz de imigração em um tribunal. Com a ajuda de uma instituição de caridade, recebem alimentos, a possibilidade de tomar banho e passagens de ônibus para se encontrarem com familiares em Atlanta, em Nova York ou em alguma cidadezinha em um estado do qual nunca ouviram falar.
O presidente dos EUA, Donald Trump, chama esse processo de “pegar e largar” (“catch and release”) e até uma semana atrás as famílias que acabavam na rodoviária eram as sortudas. Outras, no âmbito da política de “tolerância zero” de imigração do governo Trump, eram separadas. Os adultos iam para centros de detenção parecidos com presídios e seus filhos, para instalações menos restritivas semelhantes a orfanatos, todos para esperar indefinidamente que os juízes ouvissem seus casos.
“É evidente que era uma política para dissuadi-los a vir”, disse a Irmã Norma Pimentel, diretora executiva da Catholic Charities of the Rio Grande Valley, que ajuda os imigrantes que o governo deixa na rodoviária. “Eu não sei se isso impediu que as pessoas viessem, mas sem dúvida fez com que todo o mundo dissesse que não era possível que nós estivéssemos fazendo isso.”
A crescente indignação pública levou Trump a assinar uma ordem executiva em 20 de junho para suspender pelo menos temporariamente a separação das famílias, e autoridades dos EUA disseram que em breve começariam a reunir pais e filhos. Esse foi um processo rápido para as 522 crianças que ainda estavam sob custódia da Agência de Alfândega e Controle de Fronteiras quando Trump assinou a ordem. Mas no caso de mais de 2.000 em centros de detenção e lares adotivos em todo o país supervisionados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS na sigla em inglês), não se sabe ao certo quando elas serão devolvidas às suas famílias.
Ao longo da fronteira dos EUA com o México, de San Diego ao Vale do Rio Grande, a falta de informação é a regra. Durante mais de uma semana, membros do Congresso -- entre eles, vários democratas que estão pensando em uma candidatura à presidência em 2020 -- foram autorizados a visitar os centros de detenção supervisionados por funcionários do governo ou contratados. Depois, invariavelmente, todos eles disseram aos jornalistas que saíram com mais perguntas do que respostas.
Os pais disseram aos legisladores e grupos de defesa dos EUA que eles não sabem onde seus filhos estão, embora o HHS afirme que sabe onde estão todas as crianças.
A administração não disse quantas crianças foram separadas dos pais desde que o “tolerância zero” foi implementado em abril nem quantas foram devolvidas. No dia em que Trump ordenou a suspensão das separações, o HHS tinha sob custódia 2.053 crianças, separadas dos pais quando atravessavam ilegalmente a fronteira. Na terça-feira, quase uma semana depois, o número tinha caído para 2.047, apenas seis crianças a menos.
As autoridades do HHS não quiseram dizer se a agência recebeu mais crianças que foram tiradas de suas famílias depois de 20 de junho, o que torna impossível saber quantas foram devolvidas aos pais. As autoridades cortaram a ligação abruptamente após as perguntas de apenas três repórteres e encaminharam todas as outras perguntas para um endereço de e-mail.
Ninguém respondeu a uma mensagem enviada para esse endereço.