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Política de Trump causa descontentamento aos europeus, diz embaixador

João Gomes Cravinho disse que mundo inteiro vive momentos de preocupação e que a ordem internacional está em perigo em função do unilateralismo de Trump

Trump: presidente norte-americano tem assumido posições diante de questões internacionais sem levar em conta a opinião dos dirigentes da Europa (Leah Millis/Reuters)

Trump: presidente norte-americano tem assumido posições diante de questões internacionais sem levar em conta a opinião dos dirigentes da Europa (Leah Millis/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 21 de maio de 2018 às 15h59.

Última atualização em 21 de maio de 2018 às 16h00.

O embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho, destacou o descontentamento dos países europeus em relação ao presidente norte-americano Donald Trump, que tem assumido posições diante de questões internacionais sem levar em conta a opinião dos dirigentes da Europa. O assunto foi tema de entrevista ao jornalista Moisés Rabinovici, no programa Um olhar sobre o mundo, que vai ao ar hoje (21), às 21h45, pela TV Brasil.

Na conversa, Cravinho lembra que o mundo inteiro vive momentos de grande preocupação e que a chamada ordem internacional está em perigo em função do unilateralismo de Trump e de seu afastamento da Europa.

Multilateralismo

"Nós temos uma ordem internacional que, mal ou bem - sabemos todos que poderia ser uma ordem melhorada-, manteve a paz internacional nos últimos setenta anos, desde a Segunda Guerra Mundial. A Europa é uma parte muito importante disso e essa ordem está claramente sob assalto", disse.

Para o embaixador da União Europeia no Brasil, deve haver empenho para a existência de uma atitude de multilateralismo em relação ao mundo para que a ordem internacional seja mantida.

Segundo Cravinho, é vital que nesse contexto prevaleça a justiça e que não valha a "lei da selva", em que se imponha a lei do mais forte contra qualquer consideração de direitos dos outros.

"Esse tipo de mundo não nos interessa e nós vamos fazer todo o possível para trabalhar com os países aliados. Acreditamos que os Estados Unidos têm um papel a desempenhar nisso. Nos últimos oito anos trabalhamos bem com Obama, antes de Trump e acreditamos que os Estados Unidos não sejam uma causa perdida. Acreditamos que no futuro poderemos voltar a contar com os Estados Unidos", afirmou.

Gaza

Ao analisar a sequência de atos violentos na Faixa de Gaza, após a inauguração da Embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, o embaixador disse que a situação no Oriente Médio é preocupante.

"Os Estados Unidos durante as últimas décadas procuraram desempenhar um papel de fiel da balança, um papel de promotor de uma solução inclusiva. Parecem ter abandonado esse papel, ficando o mundo em uma situação em que dificilmente se verá quem consiga promover a paz no Oriente Médio", afirmou.

Irã

Cravinho disse que a União Europeia está empenhada em salvar o acordo nuclear com o Irã que os Estados Unidos romperam no início deste mês. "A União Europeia está profundamente empenhada em procurar salvar este acordo. Esta é a melhor oportunidade que nós temos para evitar uma corrida aos armamentos no Oriente Médio, para evitar que o Irã obtenha armas nucleares", comentou.

O embaixador também abordou os comentários de Trump sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, quando o presidente norte-americano elogiou a atitude dos britânicos. "Não creio que os europeus se sintam muito motivados ou incentivados por esse tipo de comentário".

Cravinho ressaltou que o apoio do presidente Trump contraria décadas de política americana, sempre favorável a um Reino Unido fortemente consolidado no centro da Europa, como uma ponte entre Washington e Bruxelas (onde fica a sede da União Europeia).

Segundo o embaixador, os britânicos foram alvo de uma campanha de promessas falsas para optarem por abandonar a União Europeia e o Reino Unido vai ter que encontrar outras fontes orçamentárias para pagar aquilo que vai deixar de receber da organização.

Portugal

O embaixador, que é português e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação em Portugal, debateu com Rabinovici sobre o momento positivo que vive Portugal.

"O que se passa em Portugal é muito interessante porque mostra novos caminhos, mostra que não somos obrigados a pensar de forma completamente homogênea, de acordo com aquilo que aparece em um ou outro manual de economia", disse.

Cravinho condenou o movimento separatista na Espanha e destacou que toda a dinâmica da União Europeia busca unir e não dividir. "Portanto, o separatismo para nós dentro da Europa é algo que vemos com grande preocupação. Esperamos que não haja agora, a partir de 2018, outras ameaças separatistas dentro da União Europeia", destacou.

Doutor pela Universidade de Oxford e com licenciatura e mestrado na London School of Economics, o diplomata foi embaixador da União Europeia na Índia, professor na Universidade de Coimbra e na Universidade Nova de Lisboa. É autor do livro Visões do Mundo, sobre teoria das relações internacionais, além de diversos artigos em revistas especializadas e em jornais.

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