Protesto: os manifestantes estão convencidos de que Keith Lamont Scott foi vítima de um erro flagrante (Adam Rhew/Charlotte Magazine/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2016 às 14h48.
A polícia da cidade americana de Charlotte estava sendo pressionada a exibir o vídeo do homicídio de um homem negro por uma policial, depois da terceira noite consecutiva de manifestações que desafiaram o toque de recolher.
Os manifestantes exigem que o vídeo em questão seja tornado público. Na quinta, a polícia aceitou mostrar as imagens aos pais de Keith Lamont Scott, de 43 anos, sendo morto.
Mas não chegaram a esclarecer o principal ponto de discórdia entre a polícia, que afirma que Scott portava uma arma, e seus familiares, que garantem que se tratava de um livro.
"Gostaria que o vídeo fosse tornado público", declarou nesta sexta-feiura a prefeita de Charlotte, Jennifer Roberts, falando à CNN, destacando, no entanto, que não tem autoridade para exigir que isso seja feito.
"Queremos nos assegurar, por exemplo, de que não modifiquemos o ponto de vista das testemunhas sobre o que se passou", acrescentou.
"Temos um passado de desigualdades raciais", admitiu ainda. "E trabalhamos duro nesta cidade para sanar essa brecha".
A pressão não só se acentua nas ruas. "Não há nenhuma razão legal para ocultar o vídeo do público e, nesta situação tensa, o melhor meio de dissipar a desconfiança da comunidade é a transparência completa", afirma o jornal The New York Times em seu editorial.
A secretária da Justiça, Loretta Lynch, também se pronunciou de forma indireta a favor da publicação das imagens.
"Não vou dar ordens à polícia no momento. Sempre acho que as situações onde a informação se torna pública, mesmo que esta informação seja difícil de ver, oferece uma transparência mair que é mais útil do que o oposto", declarou.
Calma relativa
A cidade americana de Charlotte era patrulhada nesta quinta-feira por militares da Guarda Nacional, enviados para conter os manifestantes que protestam contra a morte de Scott.
Centenas de membros suplementares das forças da ordem tentaram impedir os saques e confrontos registrados nas noites precedentes.
O governador da Carolina do Norte, Kerr Putney, declarou estado de emergência em Charlotte na quarta-feira à noite.
"Não podemos tolerar a violência. Não podemos tolerar a destruição de propriedades e não toleraremos os ataques contra nossos policiais que acontecem neste momento", afirmou o governador ao canal CNN.
Putney informou que 44 pessoas foram detidas na noite de quarta-feira após estes incidentes.
Tudo começou com uma manifestação pacífica contra os abusos policiais, mas que terminou com atos de violência.
Alguns manifestantes quebraram vidraças e outros jogaram objetos nos agentes. Os policiais do Batalhão de Choque usaram gás lacrimogêneo na frente do Hotel Omni Charlotte para tentar dispersar centenas de pessoas, que tomaram as ruas no centro dessa cidade do sudeste dos Estados Unidos.
Os manifestantes estão convencidos de que Keith Lamont Scott foi vítima de um erro flagrante.
Segundo a polícia, Scott foi morto pelo agente Brentley Vinson porque se negava a abaixar uma arma de fogo. A família da vítima afirma que a vítima carregava apenas um livro.
"A história da arma é uma mentira", afirmou à AFP Taheshia Williams, que tem uma filha que estuda na mesma escola que um dos filhos de Scott.
"Tiraram o livro e substituíram por uma arma. Este homem esperava sentado aqui todos os dias que o filho descesse do ônibus", completou.
O presidente Barack Obama ligou na quarta-feira para os prefeitos de Charlotte e de Tulsa, Oklahoma, onde na sexta-feira passada um policial matou outro afro-americano que estava desarmado.
"Keith Lamont Scott. Terence Crutcher. Muitos outros. Isto tem que acabar", escreveu no Twitter a candidata democrata à presidência, Hillary Clinton.
O candidato republicano Donald Trump fez um apelo na quarta-feira para "tornar os Estados Unidos seguros novamente". Na quarta-feira, durante um evento em uma igreja afro-americana de Cleveland, Ohio, perguntou se a policial que atirou em Crutcher teria se assustado.
A tensão racial aumentou nos Estados Unidos nos últimos dois anos por uma sucessão de abusos e atos de violência da polícia, que terminaram com a morte de homens negros, desarmados na maioria dos casos.