Membro das Farc: Boyer chegou ao Brasil em junho de 2011 após uma peregrinação que começou em 2003, quando gerou um sério conflito entre Caracas e Bogotá (Luis Robayo/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2014 às 15h24.
Brasília .- O venezuelano Moisés Boyer, que no ano passado denunciou supostos vínculos do 'chavismo' com as Farc e um suposto financiamento ao agora presidente peruano Ollanta Humala que jamais foram comprovados, pediu refúgio ao Brasil, segundo disse nesta quinta-feira à Agência Efe.
'Obviamente não vão me dar, porque há muitas pressões do Governo venezuelano', declarou Boyer, que chegou ao Brasil em junho de 2011 após uma peregrinação que começou em 2003, quando gerou um sério conflito entre Caracas e Bogotá.
Boyer assegurou na época que era piloto militar, que tinha feito parte da tripulação do avião presidencial venezuelano e que, em abril de 2002, o então vice-presidente José Vicente Rangel pediu para ele capturar o guerrilheiro Raúl Reyes na floresta colombiana.
O opositor venezuelano sustentou que o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estava doente e que o transferiu em um pequeno avião até a Venezuela para ser tratado.
Boyer, de 43 anos, ratificou hoje essa história e assegurou que o líder venezuelano Hugo Chávez, falecido no ano passado, 'não sabia de nada' e que toda essa 'operação' tinha sido dirigida pessoalmente por Rangel.
Sua denúncia, revelada em uma entrevista ao jornal bogotano 'El Espectador', foi desmentida pelo Governo venezuelano e pelo serviço secreto da Colômbia, e finalmente até a publicação admitiu que tinha sido 'enganada'.
Boyer, no entanto, insiste que tudo ocorreu como foi denunciado então, embora admita que esse episódio minou sua credibilidade.
No meio desse incidente, Boyer solicitou asilo na Colômbia, que foi negado, e partiu rumo ao Peru, onde em 2006 denunciou que Chávez tinha doado US$ 600 mil para a campanha de Ollanta Humala, que então aspirava à Presidência.
Essa denúncia também foi negada pelas partes, perante a qual o Governo venezuelano a rotulou de 'mercenário', e afirmou que, embora se dizia tenente da Infantaria, não tinha sido 'sequer soldado' na Força Armada Nacional.
Boyer insistiu hoje em declarações à Agência Efe que isso também 'foi verdade', apesar de nunca poder provar e fez com que o Peru negasse seu pedido de refúgio.
O opositor partiu então para o México, onde disse que chegou a obter um status de asilado que perdeu ao viajar rumo ao Equador para visitar uma filha que vive nesse país, sem comunicar às autoridades.
Boyer assegurou que foi detido em Quito em 2010 e deportado a Caracas, onde foi detido e acusado de 'rebelião militar, usurpação de funções e difamação da Força Armada Nacional'.
Boyer disse que permaneceu na prisão até março do 2011, quando foi libertado e seus advogados o recomendaram 'sair do país e viajar ao Brasil', onde chegou em 6 de junho desse mesmo ano.
O venezuelano entrou pela cidade de Boa Vista, no norte do país, onde no mesmo dia entrou com uma solicitação de refúgio perante as autoridades brasileiras, para o qual ainda não tem resposta.
'A negarão. Estou só lutando contra um monstro que tem mil cabeças', declarou.
Tal como fez ao longo do périplo que começou na Colômbia, Boyer insistiu que foi tenente do Exército venezuelano e que inclusive participou do levante golpista que Chávez liderou em 4 de fevereiro de 1992 contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.
'Acreditava na revolução, mas eles me traíram', declarou para justificar sua deserção das fileiras 'chavistas' às quais, de acordo com o Governo venezuelano, jamais pertenceu.