Participantes de uma manifestação pró-Rússia agitam bandeiras russas na frente da estátua de Lenin, em Simferopol (Sergei Karpukhin/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2014 às 21h58.
Moscou - Os líderes ocidentais podem pensar que Vladimir Putin está louco por suas ameaças de anexar a Crimeia e invadir outras áreas da Ucrânia. Mas a maioria dos russos, que após mais de duas décadas ainda sente o fracasso da União Soviética, está agora extremamente orgulhosa.
A taxa de aprovação de Putin, reforçada depois que a Rússia sediou os Jogos Olímpicos de Inverno no mês passado, alcançou o maior nível em três anos quando ele espalhou tropas pela Crimeia em meio à destituição do governo em Kiev apoiado pelo Kremlin. O confronto mais tenso com o Ocidente desde a queda do Muro de Berlim mostrou-se favorecedor para o governo em Moscou.
“Putin só está defendendo os interesses de seu país”, disse Yaroslav Batashev, 32, gerente de uma operadora de bens de consumo em Moscou, que diz não ser necessariamente fã do presidente. “A Crimeia é importante historicamente para a Rússia, e é russa”.
Desde que superou os maiores protestos dos seus 14 anos de governo e conquistou um terceiro mandato em 2012, Putin reafirmou seu poder dentro e fora do país. Mesmo arriscando sanções que poderiam provocar a segunda recessão econômica em cinco anos, os russos veem sua oposição ao Ocidente em relação à Ucrânia como um sinal de força, o que reforça sua imagem como o líder que restaurou a grandeza do país após o caos pós-comunista da década de 1990.
Apoio a Putin
Setenta e dois por cento dos russos aprovam o trabalho que Putin está realizando como presidente, disse a empresa independente Levada Center em 13 de março, citando uma pesquisa com 1.603 pessoas com uma margem de erro de 3,4 pontos porcentuais. Uma pesquisa realizada nos dias 8 e 9 de março pelo Centro de Pesquisas de Opinião Pública Russa, conhecido como VTsIOM e controlado pelo governo, também deu a Putin 72 por cento.
Parte desse apoio foi angariado pelos ataques desferidos pelo grande aparato de mídia de Putin sobre os “fascistas” que tomaram o poder na Ucrânia e pelo modo em que a televisão estatal retratou os protestos que levaram à expulsão do presidente Víktor Yanukóvych.
“Aquelas imagens geraram o medo de que isso ocorra na Crimeia, onde a maioria da população é russa”, disse Alexander Oslon, diretor do Fundo de Opinião Pública, ontem por telefone. “Agora, Putin tem o apoio da maioria esmagadora da população”.
Saída da Ucrânia
Um total de 96,8 por cento dos votantes na península do Mar Negro apoiou ontem a saída da Ucrânia para unir-se à Rússia, disse aos repórteres o diretor da comissão eleitoral, Mikhail Malyshev. Os resultados excluem uma cidade, Sevastopol. Os EUA e a UE disseram que a votação é ilegal.
A Crimeia pode ser incorporada à Rússia até o fim desta semana, disse Alexander Ageyev, primeiro diretor substituto do comitê para assuntos constitucionais da câmara baixa da Duma Federal, em entrevista telefônica hoje.
“A busca agressiva que Moscou está realizando pelos países limítrofes se tornou uma missão ideológica de confrontar o Ocidente, que já abandonou a racionalidade e ignora todos os custos e consequências, inclusive os que afetarão a própria Rússia”, disse por e-mail Jörg Forbrig, diretor sênior de programas no departamento de Berlim do German Marshall Fund of the United States.
Rublo e peso
O rublo caiu cerca de 10 por cento frente ao dólar este ano, o pior desempenho depois do peso argentino entre as 24 moedas de mercados em desenvolvimento acompanhadas pela Bloomberg.
“Não quero que a Rússia fique isolada novamente e que se oponha ao resto do mundo”, disse Anatoly Kapralov, 29, fundador de uma agência de publicidade em Moscou.
Esse tipo de sentimento provavelmente não influenciará Putin, disse Nicholas Spiro, diretor executivo da Spiro Sovereign Strategy, em Londres.
“Para a Rússia, é uma questão de orgulho nacional e cultural”, disse Spiro por e-mail. “É isso que está encorajando o presidente Putin a enfrentar o Ocidente”.