Platini: mesmo tendo vivo o intuito de apelar da punição, Platini sabe que o tempo é seu inimigo (Reuters/Olivier Pon/Files)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2015 às 11h39.
Quando se candidatou à presidência da Fifa, em 29 de julho, Michel Platini caminhava nas nuvens.
Cinco meses depois, o francês está suspenso por oito anos e provavelmente terá que desistir da eleição do dia 26 de fevereiro.
Além de dar adeus ao sonho de presidir a Fifa, Platini, chefão da Uefa, corre o risco de ter que se afastar de qualquer atividade ligada ao futebol, não podendo sequer assistir à "sua" Eurocopa, que será disputada na França entre os dias 10 de junho e de 10 de julho de 2016, 32 anos após os "Bleus", com Platini em campo vestindo a camisa 10, conquistarem a competição em casa, em 1984.
"Não tenho nenhuma certeza em relação ao futuro", admitiu o francês de 60 anos, em entrevista exclusiva à AFP, no dia seguinte à suspensão imposta pela Comissão de Ética da Fifa, em 21 de dezembro.
Mesmo tendo vivo o intuito de apelar da punição, Platini sabe que o tempo é seu inimigo.
Como o dirigente chegou a esse ponto?
Tudo começou com o polêmico pagamento de 1,8 milhão de euros recebido em 2011 de Joseph Blatter (presidente demissionário da Fifa e também suspenso por oito anos da Fifa) por um suposto trabalho de consultoria encerrado em 2002.
Não há registro de contrato entre os dois dirigentes, algo intrigante para a justiça suíça.
Dormindo
Para os juízes da Fifa, houve suspeita de corrupção. Em 2011, ano em que foi realizado o pagamento, Blatter foi reeleito para um quinto mandato à frente da Fifa e não teve sequer um adversário de peso, como por exemplo Platini, na disputa pela presidência.
Ao fim da investigação, as acusações de corrupção não foram mantidas, mas os dirigentes tiveram que responder por "abuso de poder", "conflito de interesses" e, no caso de Blatter, também por "gestão desleal".
Os advogados do ex-jogador da seleção francesa defenderam o cliente, acusando desde o início a Fifa de estar tentando impedir que Platini concorresse à presidência da Fifa.
"O que a Comissão de Ética da Fifa fez entre 2011, quando recebi o pagamento, e 2015? Ela estava dormindo? De repente ela acordou... Ah sim, ela acordou durante o ano eleitoral em que me candidatei à presidência! Que incrível!", ironizou Platini durante a entrevista à AFP.
O prazo para a validação das candidaturas à sucessão de Blatter vai até o dia 26 de fevereiro, ou seja, um mês antes da eleição.
Até lá, Platini terá que recorrer à Câmara de Apelação da Fifa, que certamente confirmará a sentença, antes de poder apelar ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), a mais alta instância da justiça esportiva.
Rublos, libras, dólares
Platini pensava em pular a primeira etapa e ir direto ao TAS, mas a Fifa não deu sua benção, algo obrigatório neste caso, obrigando os advogados a denunciar "uma sabotagem procedural com o intuito de confiscar a eleição à presidência".
Convencido de que estava sendo condenado com antecedência, o francês sequer compareceu à audiência que determinou sua suspensão.
Experiente político da Uefa, Platini parece ter mostrado certa ingenuidade ao aceitar o pagamento que resultou na sua queda.
Ao jornal Le Monde, o dirigente deu sua versão dos fatos em outubro: "Quanto você quer?", teria perguntado Blatter.
"Eu respondi: 'Um milhão'. 'Um milhão de que?'. 'Do que você quiser, rublos, libras, dólares'. Nessa época, o Euro não existia. Ele respondeu: 'Um milhão de francos suíços por ano'".
No dia 10 de junho, na abertura da Eurocopa, Platini teria que estar assistindo ao duelo França-Romênia da tribuna de honra do Stade de France, no cargo de presidente da Uefa.
Ao invés disso, o francês corre o risco de assistir à partida de casa, pela televisão, longe do mundo do futebol.