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Plano de paz americano quer levantar US$ 50 bilhões para palestinos

O governo Trump disse que a iniciativa pretende melhorar radicalmente a infraestrutura e governança interna na Cisjordânia e Faixa de Gaza

Palestina: a Autoridade Palestina já anunciou seu boicote ao plano (Suhaib Salem/Reuters)

Palestina: a Autoridade Palestina já anunciou seu boicote ao plano (Suhaib Salem/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de junho de 2019 às 16h17.

Os Estados Unidos anunciaram neste sábado (22) que o plano de paz para o Oriente Médio que apresentarão na semana que vem no Barein busca levantar mais de 50 bilhões de dólares e criar 1 milhão de postos de trabalho para os palestinos.

Ao revelar detalhes do plano, batizado de Da Paz à Prosperidade, o governo de Donald Trump disse que a iniciativa pretende reformar a economia palestina, gerar mais investimentos estrangeiros e melhorar radicalmente a infraestrutura e governança interna na Cisjordânia e Faixa de Gaza.

A conferência que será realizada na terça e quarta-feira em Manama, liderada pelo genro e conselheiro do presidente americano, Jared Kushner, será uma oportunidade para apresentar este plano, que, mais tarde, incluirá um componente político, segundo as autoridades.

Mas a Autoridade Palestina já anunciou seu boicote ao plano, considerando que o governo Trump, que apoia abertamente Israel, tenta comprar os palestinos e, assim, privá-los de um Estado independente.

A Casa Branca classificou o plano, que deverá ser discutido em detalhes no Barein com autoridades financeiras dos ricos países árabes do Golfo, como "o esforço internacional mais ambicioso e abrangente para o povo palestino até o momento".

"O plano é um marco para um futuro mais brilhante e próspero para o povo palestino e a região, e uma visão do que é possível se houver a paz", diz um comunicado divulgado por Kushner.

Ira palestina

Segundo a Casa Branca, o objetivo é levantar mais de 50 bilhões de dólares para os palestinos durante uma década, a fim de mais do que dobrar o seu PIB e criar mais de 1 milhão de empregos.

Arriscando irritar os líderes palestinos, o governo americano diz que o dinheiro arrecadado será administrado por um banco internacional de desenvolvimento, para garantir uma melhor governança e evitar a corrupção.

O presidente palestino, Mahmud Abbas, rejeitou hoje a proposta americana e reiterou que, primeiramente, deve haver uma solução política para o conflito entre israelenses e palestinos. Em comunicado, estimou que "a situação econômica não deve ser discutida antes de haver uma discussão sobre a situação política".

Uma conselheira de Abbas, Hanan Ashraui, também rejeitou, no Twitter, os primeiros detalhes do plano de paz: "Primeiramente, é preciso levantar o bloqueio a Gaza, parar com o roubo israelense de nossa terra, recursos e fundos, devolver a nossa liberdade de movimento e o controle sobre nossas fronteiras, espaço aéreo, águas territoriais, etc. Depois, verão como construiremos uma economia vibrante e próspera, como um povo livre e soberano."

Além de conselheira de Abbas, Hanan é membro do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Os líderes palestinos desconfiam profundamente de Kushner - que tem laços de amizade com o premier de Israel, Benjamin Netanyahu - e de Trump, que tomou uma série de decisões para apoiar Israel, entre elas o reconhecimento da disputada cidade de Jerusalém como capital do Estado judaico.

Funcionários americanos deram a entender que a parte política do plano, que poderá ser conhecida em novembro, após a realização de eleições e a formação de um novo governo israelense, não irá mencionar a criação de um Estado palestino independente, uma meta de décadas da diplomacia americana.

O ministro israelense da Energia, Yuval Steinitz, membro do partido Likud, de Netanyahu, e considerado próximo do premier, expressou seu apoio ao plano de Kushner: "Sempre fomos a favor do desenvolvimento da economia palestina e do fim da crise humanitária", disse ao Canal 13, de Israel. "Todos no mundo querem ajudar os palestinos, exceto os próprios palestinos."

Infraestrutura, turismo, governança

Depois de mais de dois anos de trabalho no plano, Kushner apresentou um projeto bastante detalhado, em que chega a elogiar os sorvetes de Ramallah em uma seção dedicada à promoção do turismo.

Mas ainda não está claro quem pagará a fatura do plano, e se os árabes do Golfo, que voltaram a encontrar uma causa comum com Israel devido à hostilidade mútua em relação ao Irã, estão dispostos a contribuir antes de um acordo político.

O dispositivo econômico do plano visa também a ajudar a Faixa de Gaza, apesar do bloqueio israelense àquele território, superpovoado e empobrecido, devido ao seu controle pelo grupo militante Hamas.

O projeto inclui uma contribuição de 590 milhões de dólares para a principal central elétrica de Gaza, que, segundo a Casa Branca, criaria dezenas de milhares de empregos e proporcionaria energia confiável pela primeira vez em anos, e 500 milhões para a construção de uma universidade de classe mundial.

O documento também prevê um impulso ao desenvolvimento do turismo e cerca de 900 milhões de dólares em subsídios para melhorar estradas, terminais de carga e cruzamentos fronteiriços, a fim de vincular a economia palestina à de seus vizinhos árabes, mas não à de Israel, que buscou uma separação física dos territórios.

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