O atleta, vestido com um terno preto e uma camisa azul celeste, não conseguiu evitar as lágrimas (Antoine de Ras/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2013 às 13h41.
Pretória - O sul-africano Oscar Pistorius, primeiro atleta deficiente físico a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos, em Londres-2012, chorou nesta sexta-feira depois que o tribunal de Pretória o indiciou formalmente do assassinato de sua namorada, crime que ele negou em um comunicado e pelo qual pode ser punido com a prisão perpétua.
O atleta, vestido com um terno preto e uma camisa azul celeste, não conseguiu evitar as lágrimas, ao mesmo tempo em que cobria o rosto com as mãos e olhava para o chão enquanto ouvia as acusações, antes que o juiz decidisse concluir o primeiro dia e adiar a audiência para terça-feira.
Na retomada da audiência, na próxima terça-feira, a defesa de Pistorius pode pedir sua liberdade sob fiança.
A polícia excluiu a tese de acidente e a promotoria solicitará a reclassificação do caso como "assassinato com premeditação", o que pode resultar em uma sentença de prisão perpétua.
Há três anos, Pistorius havia se declarado favorável à pena de morte (abolida na África do Sul em 1995) por crimes de sangue.
Mas o atleta paralímpico rejeitou enfaticamente a acusação de assassinato de sua namorada Reeva Steenkamp, em um comunicado divulgado pela família e seu agente.
"Oscar Pistorius compareceu perante a justiça aqui em Pretória nesta manhã (sexta-feira) e foi formalmente acusado do assassinato de Reena Steenkamp. Este suposto assassinato é contestado de forma contundente", afirma o texto.
"Oscar Pistorius deixou claro que queria enviar seu profundo pesar à família de Reeva. (...) Nossos pensamentos e orações devem estar com Reeva e sua família, para além das circunstâncias desta terrível, terrível tragédia", acrescenta a nota.
A justiça sul-africana designou o caso a um magistrado acostumado com grandes processos, Desmond Nair, mas Pistorius não olhou para ele quando o saudou, ao mesmo tempo em que o juiz pedia que se acalmasse e sentasse.
Nair suspendeu até terça-feira e quarta-feira a audiência para dar "tempo à defesa para investigar e estar em melhor posição em suas petições".
Ao término da audiência, que durou menos de uma hora, o atleta foi levado a uma cela de uma delegacia do Brooklyn, um bairro da classe alta de Pretória, onde seguirá detido até terça-feira.
O atleta chegou ao tribunal em um veículo policial sentado na parte de trás, com a cabeça coberta, enquanto um oficial tentava protegê-lo com um livro.
Astro em seu país, lenda do atletismo mundial e exemplo para milhões de jovens atletas, Oscar Pistorius, de 26 anos, é acusado pelo assassinato de Reeva Steenkamp, de 29 anos, uma modelo sul-africana com quem mantinha um relacionamento desde novembro.
A vítima faleceu por quatro disparos com arma de fogo na madrugada de quinta-feira.
Meios de comunicação do mundo inteiro esperaram por várias horas no exterior do edifício, onde dezenas de curiosos se reuniam, e uma parte dos jornalistas não conseguiu entrar na sala onde ocorria a audiência por falta de espaço.
O pai do atleta, Henke, e sua irmã, Aimee, se abraçaram em sua chegada, antes de se sentarem na primeira fila. Pistorius perdeu a mãe quando era adolescente.
A jovem modelo sul-africana mostrava estar feliz antes do drama, ao poder comemorar o dia de São Valentim com o namorado.
Mas, segundo o jornal Beeld, a polícia foi avisada uma primeira vez durante a madrugada por vizinhos devido aos gritos procedentes de uma discussão na casa de Pistorius, localizada em um luxuoso complexo residencial muito protegido por medidas de segurança.
A polícia foi chamada uma segunda vez na madrugada após o som dos disparos. Um vigia da residência indicou ao jornal que o corpo de Reeva foi encontrado no banheiro.
A imprensa sugeriu primeiro que a vítima havia sido confundida por Pistorius com um ladrão, antes que a polícia excluísse a tese de um acidente, falando de brigas entre o casal na residência do acusado, segundo informações antigas sobre incidentes.
Um dia após o drama, a imagem de um Oscar Pistorius de caráter forte e paranóico se opunha a de sua tenacidade esportiva, que lhe permitiu ser um ídolo na imprensa sul-africana.
Mas muitos fãs custavam a acreditar no que estavam lendo ou ouvindo.
"É algo que pode acontecer com qualquer um", afirmava um estudante de Direito, Shadrack Mafutsa, de 32 anos, convencido de que Pistorius confundiu a namorada com um ladrão.
Na quinta-feira, "vários especialistas participaram da investigação" da polícia na casa de Pistorius, onde ocorreu o crime, disse à AFP a porta-voz, Katlego Mogale.
"O corpo da jovem Reeva será entregue a sua família para o funeral quando os especialistas terminarem a necropsia, amanhã ou na próxima semana. Não sabemos quanto tempo levarão, mas estamos esperando o relatório", acrescentou Mogale.
Na véspera de sua morte, a jovem havia defendido no Twitter as mulheres vítimas de violências sexuais, em um país onde a frequência de estupros é muito alta.
Depois havia lançado em seu blog uma mensagem no mesmo sentido. "Vistam-se de preto nesta sexta-feira para apoiar a campanha contra os estupros e a violência contra as mulheres", unindo-se à indignação geral provocada por uma recente agressão sexual e mutilação atroz de uma adolescente no início de fevereiro perto da Cidade do Cabo.
A modelo participou em um "reality-show" rodado na Jamaica, cuja exibição está prevista a partir de sábado. A rede pública SABC indicou nesta sexta-feira que o manterá em sua programação.