O estudo pretende documentar os comportamentos, o uso sazonal de habitats, a alimentação, a disposição de fontes de água e a criação dos filhotes (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2011 às 07h04.
Lima - A descoberta de uma colônia de ursos de óculos em um parque arqueológico e ecológico do norte do Peru abriu novas perspectivas para conhecer o comportamento desta enigmática espécie, considerada em perigo de extinção.
"Antes se pensava que os ursos estavam apenas em áreas protegidas, mas graças a esta pesquisa descobrimos que estes animais descem até 200 metros para se alimentar das florestas de sapoti que crescem nas partes baixas", afirmou à Agência Efe o pesquisador de campo José Vallejos.
Os ursos de óculos são uma espécie de mamíferos carnívoros da família dos ursídeos, os únicos de sua espécie na América do Sul. De coloração negra ou café, com manchas brancas nos olhos, costumam medir entre 1m30 e 1m90, e pesar entre 80 e 125 quilos.
A pesquisa no norte peruano começou há cinco anos, dirigida pela bióloga canadense Robyn Appleton e uma equipe de três pesquisadores de campo peruanos, em coordenação com o museu arqueológico de Sicán.
Eles conseguiram identificar 37 ursos de óculos com o uso de câmeras, armadilhas não-letais e observações.
O estudo pretende documentar os comportamentos, o uso sazonal de habitats, a alimentação, a disposição de fontes de água e a criação dos filhotes, para aplicar novas medidas que assegurem a proteção da espécie.
Uma destas medidas foi a criação, em 28 de abril de 2010, do parque arqueológico e ecológico do Batán Grande, ordenada pelo município distrital de Pitipo, na região nortista de Lambayeque.
Além disso, em 2008, a organização "Spectacled Bear Conservation", da qual fazem parte os pesquisadores, e a associação de criadores de gado da área, construíram uma cerca de dez quilômetros para proteger a região do estudo, com placas que informavam sobre a proibição de caçar animais em perigo de extinção.
É possível que estas medidas tenham contribuído para a reprodução da espécie, já que de acordo com Vallejos, recentemente foram descobertas três ursas com seus filhotes em cavernas.
"Estamos tomando nota dos tempos que passam fora e dentro das cavernas e as atividades que mães e filhos desenvolvem. O mais importante de tudo é que isto está sendo feito em estado silvestre", destacou.
De acordo com Vallejos, o estudo procura "determinar, em estado natural, o comportamento, a sobrevivência e reprodução dos ursos de óculos a fim de reproduzi-lo em outras áreas do país para conhecer a quantidade de animais que existem".
No entanto, ainda há muito a descobrir, já que os analistas estão tentando conhecer a distribuição dos ursos no espaço colocando colares de localização com GPS em quatro deles. "Com esta medida podemos saber os pontos que os animais percorrem", explicou Vallejos.
O investigador esclareceu que ainda estão longe de cumprir seu objetivo, já que pretendem colocar estes colares "em dez ou 12 ursos, entre fêmeas e machos, para obter uma informação mais específica do comportamento destes animais".
De acordo com as pesquisas, os principais fatores que influenciam na redução da população dos ursos são a caça ilegal e a propagação de cultivos agrícolas mediante a poda do sapoti, um elemento fundamental para a sobrevivência desta espécie.
A organização "Spectacled Bear Conservation" tem como objetivo a longo prazo desenvolver um programa de oficinas e outras atividades que promovam a preservação do meio ambiente entre os habitantes locais.