Lima: a capital peruana está sobre o chamado Círculo de Fogo do Pacífico, onde ocorre 85% da atividade sísmica mundial (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2016 às 10h35.
Lima -- País acostumado a tremores de terra quase diários, o Peru tenta se preparar para um terremoto e um tsunami catastróficos, que se acontecerem em Lima deixarão pelo menos 50 mil mortos e afetarão mais de 250 mil famílias, segundo o desastroso cenário previsto em uma simulação realizada na noite da última quinta-feira.
Às 20h alarmes soaram em todo o litoral peruano, onde vivem mais de 17 milhões de pessoas, para esvaziar edifícios e áreas baixas frente a um hipotético terremoto de magnitude 8,5 na escala Richter e um posterior tsunami com ondas de até 12 metros de altura.
Nem toda a população advertida participou da simulação, apesar das intensas campanhas de conscientização, e que ainda seja lembrado com angústia o terremoto de 2007 na cidade de Pisco, que teve magnitude 8 e deixou 595 mortos.
Em Lima, com 10 milhões de habitantes e suas avenidas colapsadas pelo caótico tráfego, shoppings e edifícios comerciais levaram às ruas clientes e funcionários para que ocupassem as "zonas seguras", círculos pintados em áreas abertas.
Só os moradores mais conscientes deixaram suas casas para ir aos "pontos de reunião", estabelecidos em espaços amplos como parques, enquanto na cidade portuária de Callao os mais precavidos subiram ao topo de edifícios altos para se "salvarem" do tsunami simulado, capaz de inundar até o quinto andar de prédios.
O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, com capacete e colete, liderou o esvaziamento do palácio do governo e supervisionou as ações no restante do país em um centro de comunicação instalado em uma praça de Lima, aglomerada de curiosos que se omitiam aos alarmes.
"Em um terremoto o Estado deve ser capaz de enfrentar difíceis circunstâncias. Nos falta muito, mas também melhoramos muito nos últimos anos", disse Kuczynski a poucos metros da catedral de Lima, reconstruida várias vezes por danos em diferentes terremotos.
O chefe da Direção Desconcentrada para Lima e Callao do Instituto Nacional de Defesa Civil (Indeci), Ivan Zapata, afirmou à Agência Efe que um terremoto como o da simulação "produzirá muitos falecidos porque há muitas áreas de risco", como as colinas em torno de Lima, com grande densidade de casas em estado precário.
Nas semanas prévias ao teste, o Indeci realizou reuniões nesses bairros populosos, onde pediu aos moradores que sempre tivessem pronta uma mochila com água, lanterna, rádio a pilhas e mantimentos para vários dias, e para que, em caso de necessidade, localizassem lugares dentro das casas onde poderiam se proteger durante o terremoto para posteriormente comparecerem aos pontos de reunião.
Zapata lembrou que o Peru está sobre o chamado Círculo de Fogo do Pacífico, onde ocorre 85% da atividade sísmica mundial.
O Instituto Geofísico do Peru (IGP) advertiu que um grande terremoto pode ocorrer em breve em Lima porque há um "silêncio sísmico" de mais de 40 anos sem abalos superiores à magnitude 8.
Não é casualidade que a simulação, a segunda do ano em nível nacional, ocorra em outubro, pois foi neste mês quando Lima sofreu os terremotos mais fortes que já registrou, nos anos de 1609, 1687, 1746, 1966 e 1974.
Durante a simulação, a força aérea ensaiou a retirada de feridos com helicópteros, e um avião sobrevoou a hipotética região afetada para avaliar danos.