Keiko Fujimori: de acordo com uma simulação de votação realizada pela empresa CPI, Fujimori teria 51,6% dos votos válidos e se tornaria a primeira mulher eleita (Janine Costa/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2016 às 09h51.
O próximo presidente do Peru será descendente de imigrantes: o segundo turno de domingo, 5 de junho, definirá se a honra caberá a Keiko Fujimori, de origem japonesa, ou a Pedro Pablo Kuczynski, de ascendência europeia, filho de um sobrevivente do nazismo.
De acordo com uma simulação de votação realizada pela empresa CPI, Fujimori teria 51,6% dos votos válidos e se tornaria a primeira mulher eleita presidente no Peru, contra 48,4% de Kuczynski. A consulta foi feita entre 31 de maio e 1º de junho com 1.815 entrevistados, com margem de erro de 2,3 pontos percentuais.
Uma eventual vitória de Keiko colocaria pela segunda vez na Presidência um candidato de raízes asiáticas, desde que, em 1990, um quase desconhecido filho de japoneses, Alberto Kenya Fujimori Fujimori, superou o já famoso Mario Vargas Llosa em eleições que plasmaram na política a face multicultural e mestiça do país.
O paradoxo do retorno de um membro do clã Fujimori ao poder, para alguns cidadãos comuns, transmite a mensagem de que Keiko, de 41 anos, está acima do bem e do mal: não a prejudica que seu pai cumpra desde 2009 uma condenação a 25 anos de prisão como autor intelectual do assassinato de 25 pessoas pelas mãos de um esquadrão da morte na guerra contra o grupo Sendero Luminoso.
Ao contrário, Keiko se beneficia de uma percepção popular depurada sobre a comunidade peruano-japonesa: são perseverantes e disciplinados, características que levaram seu pai ao poder. O fardo que a corrupção representa e ofuscou o governo de seu pai parece não comprometer sua liderança.
A comunidade japonesa
"A comunidade nikkei peruana é a segunda maior da América Latina, depois do Brasil. Não há dados oficiais, mas calcula-se que atualmente entre 80 e 90 mil pessoas, incluindo os aproximadamente 30 mil nikkei peruanos no Japão", assegurou à AFP Harumi Nako, porta-voz da Associação Peruano-japonesa.
"É uma comunidade aberta e integrada ao país", destacou Nako, para explicar a boa percepção de que desfrutam em um país onde convivem diversas raças desde a conquista espanhola no século XVI, a chegada de escravos africanos e a onda de migrantes chineses e japoneses no século XIX.
Embora Keiko Fujimori, que pertence à geração "sansei" (netos de imigrantes), mantém uma relação passiva com a comunidade japonesa, uma vitória sua não passará despercebida neste coletivo que vive do comércio e a indústria.
A comunidade japonesa deu um salto em algumas de seus costumes tradicionais no último quarto de século e hoje é comum ver casamentos interraciais.
O caso de Keiko Fujimori, cujos pais Alberto Fujimori e Susana Higuchi são filhos de japoneses, é um exemplo desta abertura. Keiko se casou em 2004 em Lima com o ítalo-americano Mark Villanella, sob o rito católico.
Raízes alemãs e franco-suíças
E, se a sorte lhe sorrir, o político veterano, ex-banqueiro de Wall Street e funcionário do Banco Mundial Pedro Pablo Kuczynski, poderia ser o primeiro peruano a chegar ao poder com um vínculo singular com o cinema: é aparentado com o cineasta francês Jean-Luc Godard e com a atriz americana Jessica Lange.
Filho de pai alemão de ascendência polonesa e mãe franco-suíça, PPK, como gosta de ser chamado, sempre lidou com discrição sobre seu entorno familiar até que, em 2011, quando disputou pela primeira vez a Presidência, começaram a vazar alguns detalhes de sua intensa biografia.
Um deles tem a ver com a sua mãe, Madeleine Godard, uma professora francesa que lhe transmitiu o amor pela filosofia, a leitura e, sobretudo, a música, como ele mesmo lembrou mais de uma vez.
"Somos primos, mas nos vimos muito poucos", contou à AFP durante a campanha de 2011 sobre a existência de parentesco com o diretor de 'Acossado', 'Alphaville' e 'Je vous salue, Marie', entre outros filmes.