Rússia e Coreia do Norte se aproximaram nos últimos anos após as sanções ocidentais contra Moscou (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 07h53.
A Coreia do Norte enviou cerca de 10.000 militares à Rússia para receber treinamento, informou o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, na última segunda-feira, 28. A estimativa é três vezes maior que a anterior, no momento em que Otan e União Europeia temem uma escalada perigosa da guerra na Ucrânia.
Moscou e Pyongyang intensificaram sua cooperação militar desde o início da invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022, mas a participação de tropas norte-coreanas nos combates pode intensificar o conflito.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou nesta segunda-feira que, de acordo com os serviços de inteligência de seu país, poderá haver, “em breve”, até 12.000 soldados norte-coreanos em solo russo, enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, descreveu o destacamento como “muito perigoso”.
"Acreditamos que a RPDC [República Popular e Democrática da Coreia, o nome oficial da Coreia do Norte] enviou cerca de 10.000 soldados no total para treinar no leste da Rússia, o que provavelmente aumentará as forças russas perto da Ucrânia nas próximas semanas", disse a jornalistas a subsecretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh.
"Algumas" dessas tropas "já estão próximas da Ucrânia", acrescentou.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou o envio de tropas norte-coreanas como "muito perigoso".
O Exército russo conquistou 478 km² de território ucraniano desde o início de outubro, seu maior ganho territorial em um mês desde março de 2022 e as primeiras semanas da guerra, segundo uma análise da AFP baseada em dados do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês).
A Coreia do Norte assegurou que qualquer envio de soldados à Rússia "cumpriria" o direito internacional, sem confirmar nem desmentir a presença de suas tropas.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, alertou que "a cooperação militar ilegal entre Rússia e Coreia do Norte é uma grande ameaça à segurança da comunidade internacional e poderia representar um grave risco para a nossa segurança nacional".
Horas antes das declarações do Pentágono, o novo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, também havia feito um alerta a partir da sede da Aliança em Bruxelas.
"Posso confirmar que tropas norte-coreanas foram enviadas à Rússia e que unidades militares norte-coreanas foram deslocadas para a província de Kursk", disse ele, referindo-se a uma "escalada perigosa".
Em troca do envio de tropas, a Rússia "fornece à Coreia do Norte tecnologia militar e outros tipos de auxílio para contornar as sanções internacionais", acrescentou.
Mas o uso de tropas norte-coreanas "também é um sinal do crescente colapso" de Vladimir Putin, afirmou Rutte.
"Mais de 600.000 soldados russos morreram ou foram feridos na guerra" desencadeada pelo presidente russo, "incapaz de continuar seu ataque à Ucrânia sem apoio estrangeiro", continuou.
Após um telefonema com o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou a mudança que representa o envio, "pela primeira vez", de soldados norte-coreanos "em apoio à guerra de agressão da Rússia".
A agência de espionagem da Coreia do Sul informou aos legisladores que até generais norte-coreanos "poderiam ser enviados para zonas fronteiriças", um sinal de intensificação da cooperação entre Moscou e Pyongyang.
Outro sinal da aproximação é a viagem esta semana a Moscou da ministra norte-coreana das Relações Exteriores, Choe Son Hui, noticiada nesta terça-feira pela agência oficial do país asiático KCNA.
Os Estados Unidos afirmaram na segunda-feira que haviam expressado sua preocupação às autoridades chinesas pelo envio de soldados norte-coreanos à Rússia.
"Fizemos contato com a China sobre este assunto para que eles soubessem que estamos preocupados e que eles também deveriam estar pela ação desestabilizadora de dois de seus vizinhos, Rússia e Coreia do Norte", disse à imprensa o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, lembrando que Pequim tem uma "voz influente" sobre Pyongyang.
Na semana passada, Zelensky pediu ao Ocidente punições para a parceria entre Rússia e Coreia do Norte.
"As sanções não bastam. Precisamos de armas e de um plano claro para impedir que a Coreia do Norte se envolva mais na guerra na Europa", instou o chefe de gabinete de Zelensky, Andriy Yermak, na rede X.
"O inimigo entende a força. Nossos aliados têm essa força", concluiu o chefe de gabinete de Zelensky.