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Mike Pence: na Casa Rosada, de olho na Casa Branca

Como todo vice-presidente americano, Pence almeja sentar um dia na cadeira do chefe

Pence e o chanceler argentino: depois de Buenos Aires, o vice americano vai para Santiago do Chile e para a Cidade do Panamá (Marcos Brindicci/Reuters)

Pence e o chanceler argentino: depois de Buenos Aires, o vice americano vai para Santiago do Chile e para a Cidade do Panamá (Marcos Brindicci/Reuters)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 15 de agosto de 2017 às 20h41.

Última atualização em 15 de agosto de 2017 às 20h44.

Não é muito fácil trabalhar na equipe de Donald Trump, um presidente centralizador, personalista e incrivelmente imprevisível, para não dizer indecifrável. Mas, diferentemente dos secretários, assessores e diretores, Mike Pence pelo menos não pode ser demitido.

Como todo vice-presidente americano, Pence almeja sentar um dia na cadeira do chefe. É a dinâmica natural do presidencialismo americano — embora longe de ser algo garantido. Que o digam Al Gore, o vice de Bill Clinton, e tantos outros que ficaram para trás.

Pence é um ultra-conservador ex-governador de Indiana que, aos 58 anos, foi atraído por Trump para sua chapa para confiar conquistar a confiança do Partido Republicano.

Hoje Pence tem uma posição delicada, por causa das constantes especulações de que Trump não conseguiria terminar o mandato. O vice tem sido envolvido numa trama conspiratória para substituir o presidente, há apenas sete meses no cargo. Isso não só pode queimá-lo com seu abrasivo chefe, como com o próprio eleitorado republicano.

No seu giro pela América Latina esta semana, a habilidade de Pence de equilibrar-se sobre essa corda bamba tem sido testada. Nesta terça-feira, ele passou por Buenos Aires, onde visitou a Casa Rosada, sede do executivo argentino. Durante entrevista coletiva ao lado do presidente Mauricio Macri, os repórteres lhe perguntaram a respeito dos ataques que o chefe do Conselho de Segurança Nacional, general Herbert Raymond McMaster, vem sofrendo, por parte de grupos ultra-conservadores, incluindo o site Breitbart News, fundado por Steve Bannon, estrategista-chefe de Trump. Para eles, o general não tem apoiado Israel e tem sido leniente com o Irã. Pence fugiu da pergunta.

Na semana passada, as redes sociais foram inundadas com links para um suposto site de campanha de Pence para a presidência em 2020 — o que abortaria uma eventual reeleição de Trump. A página, officialmikepence.com, foi colocada no ar no dia da mentira, 1.º de abril, pelo site de humor Funny or Die, espécie de “Sensacionalista” americano. Democratas se encarregaram de espalhar a maldade como se fosse verdadeira.

Reportagem recente do jornal The New York Times falava de vários republicanos, incluindo Pence, que estariam em campanha para 2020, diante das dificuldades de Trump de decolar. O vice divulgou uma nota afirmando que a matéria era “uma desgraça e uma ofensa” para ele, sua família e sua equipe.

Mas esse é um daqueles assuntos que não morrem. Nessa segunda-feira, Anthony Scaramucci, que teve uma passagem relâmpago na Casa Branca como diretor de comunicação, contou, numa sessão de pergunta e resposta da plataforma Periscope, que chamava Pence de “46”, numa referência ao fato de que o próximo será o 46.º presidente americano.

“Ele vai ficar bravo comigo por lhes contar isso, mas o meu apelido para o vice-presidente é 46”, disse o ex-executivo do banco de investimentos Goldman Sachs. “Isso lhes dá uma ideia do quanto eu gosto dele.”.

No seu tour pela América Latina, Pence tem a ingrata tarefa de responder às críticas dos governantes da região à declaração de Trump de sexta-feira, na qual acenou com a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela. Nessa segunda-feira, em Bogotá, o presidente Juan Manuel Santos se colocou contrário à intervenção.

“Como amigos precisam dizer a verdade uns aos outros, eu disse ao vice-presidente Pence que a possibilidade de intervenção militar não deveria nem ser considerada, nem na Colômbia nem na América Latina”, disse Santos aos repórteres. “A América é um continente de paz. Vamos preservá-la assim”, completou o presidente, credenciado pelo recente acordo de paz firmado com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz.

Nesta terça-feira, foi a vez de o argentino Mauricio Macri dizer a Pence que “o caminho a seguir não é o uso da força”. O vice escolheu as palavras para mudar o sentido da declaração de Trump e ao mesmo tempo manter a aparência de lealdade ao chefe: “O presidente Trump é um líder que diz o que pensa e pensa o que diz. Mas o presidente me mandou aqui para continuar a arrebanhar o apoio sem precedentes de países em toda a América Latina para alcançar por meios pacíficos a restauração da democracia na Venezuela, e acreditamos que é alcançável por esses meios”.

Acossado pelos repórteres americanos que o acompanham, para comentar a declaração inicial dúbia de Trump, que criticou “muitos lados” pela violência no ato racista na Virgínia, que terminou com uma mulher morta e dezenas de feridos, Pence disse: “Não temos tolerância alguma pelo ódio e a violência, supremacistas brancos, neo-nazistas ou KKK (Ku Klux Klan). Esses perigosos grupos pequenos não têm lugar na vida pública e no debate americanos, e os condenamos nos termos mais fortes possíveis”.

Pence segue para Santiago do Chile e para a Cidade do Panamá. Ele pode sair da Casa Branca. Mas a Casa Branca não sai dele.

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