O presidente do México, Enrique Peña Nieto: após o desgaste de imagem sofrido pelo desaparecimento de estudantes, o resultado eleitoral do domingo lhe injetou oxigênio (Ronaldo Schemidt/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2015 às 16h43.
Bruxelas - Peña Nieto está exultante, contente após os resultados das eleições do último domingo que lhe permitirão desenvolver seu plano de reformas sem muita dificuldade, em aliança com o Partido Verde Ecologista.
Após o desgaste de imagem sofrido pelo desaparecimento de estudantes em Guerrero, o resultado eleitoral do domingo lhe injetou oxigênio e ele se vê agora satisfeito, com o impulso que necessita para encarar a fase decisiva de seu mandato.
O presidente do México nos encontrou ao meio-dia no decadente hotel Le Plaza, rodeado de estabelecimentos asiáticos, envolvido em um curioso vaivém de curiosos e personagens exóticos.
Chegou às 15h30 em ponto no salão Marie Henriette, no primeiro andar do edifício, com uma dezena de guarda-costas e assessores de comunicação.
Impecável e vestido de terno escuro e gravata vermelha, nos cumprimentou por nossos nomes de batismo fazendo jus a sua fama de homem pragmático que não quer perder tempo. Meia hora de entrevista e dez minutos em off fora do roteiro.
Em off disse que não é certo que não tenha amigos. "Claro que tenho". Peña Nieto tem, "mas não o presidente do México". Nem amigos, nem interesses de amigos, nem amigos mediadores, nem mediadores amigos. Só o interesse do país, os problemas e as reformas que o México necessita.
Reforma é a palavra. Obsessão por reformar a estrutura inteira da nação para que o país seja outro após sua saída.
A reforma em educação caminha bem, apesar da queda de braço contra os sindicatos. A reforma tributária, a energética, a eleitoral, em linha com o previsto. Mas a modernização do México vai depender muito da reforma tecnológica e das infraestruturas.
Em tecnologia quer que o México esteja na vanguarda da revolução digital. Em infraestruturas, construir modernas rodovias, o primeiro trem de alta velocidade da América, o melhor e maior aeroporto do continente, metrôs e trens nas grandes cidades.
E os melhores portos da região. Embora admita que, por falta de orçamento, terá que fazer cortes. Porque para esses projetos precisam de dinheiro. Investimento. Capital estrangeiro. Estabilidade. Que os investidores acreditem de verdade que o país é muito mais que a violência do tráfico, os sequestros relâmpagos e as desaparições de estudantes.
Pena Nieto olha sempre para frente, direto nos olhos, sem evitar perguntas. Lhe dói que seu país seja visto por alguns no exterior apenas como "uma nação tomada pelo crime organizado".
O México é muito mais que um problema de violência. É a primeira potência em turismo da América Latina. Um gigante em território e população. Um colosso energético, apesar importar 50% do combustível que necessita.
Peña Nieto deseja a liderança regional. Respalda o processo cubano e admite uma relação cordial com os Castro, e apenas "institucional" com Maduro. A Venezuela lhe ocupa e preocupa, e por isso pede, sem mostrar-se nem a favor nem contra a missão de Felipe González, que "se respeitem os direitos humanos".
Falamos do papa, de sua visita ao México, e da próxima viagem dos reis da Espanha, que serão recebidos com todo carinho pelo povo mexicano.
Meia hora de reunião e dez minutos de conversa. Nos acompanhou na despedida até a escada, após entrar no salão Marie Henriette um funcionário que limpou com delicadeza todos os objetos o presidente que tinha tocado.
As equipes de contrainteligência funcionam sempre assim.