Pedro Sánchez: a renovação do político no poder encerrará a paralisia que começou com as eleições de abril (Sergio Perez/Reuters)
AFP
Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 13h53.
O líder socialista espanhol Pedro Sánchez perdeu, neste domingo (5), um primeiro voto de confiança no Congresso, mas deve ser eleito na terça-feira para liderar um governo de coalizão de esquerda sem precedentes.
Sem surpresa, o líder de 47 anos obteve 166 votos a favor, longe da maioria absoluta (176 de 350) necessária para receber a confiança da câmera no primeiro turno.
Mas 48 horas depois, quando em uma segunda votação mais 'sim' do que 'não' será suficiente, deverá ter sucesso por uma diferença mínima, ao somar o apoio dos socialistas, da esquerda radical do Podemos, seu futuro parceiro de governo, e de vários pequenos partidos regionais.
Se a correlação de forças se repetir, Sánchez receberá 167 votos a favor (neste domingo, um deputado do Podemos não votou por doença), 165 contra e 18 abstenções.
Será crucial a abstenção dos 13 deputados do partido separatista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que exigiram dos socialistas "uma mesa de diálogo" entre Madri e Barcelona para encontrar soluções para a crise persistente na região nordeste da Espanha.
Chegado ao poder em junho de 2018 através de uma moção de censura que tirou o conservador Mariano Rajoy, Sánchez liderará um governo de coalizão entre socialistas (120 deputados) e o Podemos (35), com um programa social, ambientalista e feminista, focado na redução das desigualdades persistentes após a crise econômica.
"Esta coalizão progressista é o melhor antídoto contra essa coalizão do apocalipse", lançou Sánchez antes da votação, referindo-se à direita e à extrema direita, que lançaram duras palavras contra o líder socialista.
Será um "governo Frankenstein" formado por "comunistas" e "separatistas", que "quer acabar com a Espanha constitucional", criticou o líder do Partido Popular (PP) conservador, Pablo Casado.
"Mentiroso, golpista e vilão dos quadrinhos", criticou Santiago Abascal, líder do partido de extrema direita Vox, que promove mobilizações contra o líder socialista em 12 de janeiro.
Em uma Espanha mergulhada na instabilidade política desde 2015, a renovação de Sánchez no poder encerrará a paralisia que começou com as eleições de abril, o subsequente fracasso da formação de um governo e a repetição das eleições em 10 de novembro.
Sánchez defendeu seu programa governamental, que inclui o aumento dos salários e dos impostos, a regulamentação dos aluguéis diante do forte encarecimento de Madri e Barcelona e a revogação parcial de uma reforma aprovada pelos conservadores em 2012 para liberalizar o mercado de trabalho.
Mas muitos dos discursos giraram em torno do conflito catalão, cujo pico foi a tentativa fracassada de secessão de outubro de 2017.
Em meados de outubro, nove líderes separatistas foram condenados a altas penas de prisão por esses eventos, uma decisão da Suprema Corte que desencadeou protestos, às vezes violentos, na região.
Entre os prisioneiros, o líder do ERC, Oriol Junqueras.
Outras formações separatistas como Juntos pela Catalunha (JxC), do ex-presidente Carles Puigdemont, se opõem ao pacto em que o governo de coalizão regional deve participar.
De qualquer forma, o porta-voz do ERC, Gabriel Rufián, emitiu um alerta aos socialistas, lembrando durante seu discurso que sua formação já precipitou a convocação das eleições de abril ao não apoiar os orçamentos de Sánchez.
Em minoria e em um contexto de fragmentação e polarização, alguns analistas questionam a estabilidade do que será a primeira coalizão governamental desde o final da ditadura de Francisco Franco (1975), forçada a negociar com várias partes para avançar com seu programa.