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Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2012 às 21h01.
Ramala - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, manifestou nesta segunda-feira sua esperança de que a Palestina melhore sua posição na negociação com Israel após um possível reconhecimento como Estado observador não membro da ONU.
"Somos conscientes que podem ser abertas novas oportunidades para a Palestina se relacionar com a comunidade internacional, que podem melhorar seu poder negociador nesta situação tão complexa, onde é a parte mais fraca", disse Patriota após se reunir em Ramala com o chanceler da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Riad Maliki.
Esta é a primeira viagem ao território palestino realizada por um ministro das Relações Exteriores brasileiro desde que em 2010 o governo de Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu a Palestina como Estado.
Patriota e Maliki abordaram a iniciativa do presidente palestino Mahmoud Abbas de solicitar no mês que vem à Assembleia Geral da ONU que a Palestina seja aceita como Estado observador não membro da organização.
"Apoiamos esta nova iniciativa palestina diplomática e pacífica, que carrega certo grau de incerteza", afirmou Patriota ao lembrar que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, já se mostrou a favor da anterior e fracassada aspiração palestina de conseguir o reconhecimento da ONU como Estado membro de plenos direitos.
Patriota disse que existe apoio internacional ao processo de paz entre israelenses e palestinos, congelado desde 2010, e expectativas de que resultados tangíveis sejam alcançados. Por sua parte, Maliki agradeceu o apoio do Brasil ao povo palestino e o papel do país nos esforços de paz da região.
Em conversa com jornalistas, Maliki disse esperar que o Brasil influencie outros países da América Latina, Caribe e Europa para votarem a favor da Palestina na ONU.
Fontes oficiais palestinas anteciparam que o presidente da Autoridade Nacional Palestina deve apresentar na ONU a minuta da solicitação como Estado observador não membro em 29 de novembro, coincidindo com Dia Internacional em Solidariedade aos Palestinos.
O chefe da diplomacia brasileira também se reuniu em Ramala com o primeiro-ministro da ANP, Salam Fayyad; o chefe negociador, Saeb Erekat; a veterana dirigente Hanan Ashrawi; e o presidente da organização, Mahmoud Abbas, com quem visitou o mausoléu do histórico líder palestino Yasser Arafat.
Abbas repassou com Patriota a situação do processo de paz e a aposta palestina em fazer parte das Nações Unidas, e agradeceu o apoio de Brasília à causa palestina, tanto por parte da presidente Dilma Rousseff como de Lula, segundo a agência oficial da ANP.
Patriota, por sua parte, transmitiu a determinação de seu país de aprofundar as relações bilaterais com a Palestina e apoiar seu povo.
Na reunião com Fayyad, Patriota escutou um resumo dos ataques contra palestinos sofridos por colonos judeus radicais na Cisjordânia, especialmente na atual temporada de colheita da azeitona, disse o gabinete do chefe de governo por meio de um comunicado.
Fayyad também falou da ampliação das colônias judaicas, principalmente em Jerusalém Oriental, e das ordens israelenses de demolição de casas e outras instalações no Vale do Jordão.
Ashrawi, por sua parte, frisou o papel importante que o Brasil e outras economias emergentes podem desempenhar no apoio à iniciativa palestina na ONU, em um contexto de "monopólio dos Estados Unidos sobre o processo de paz".
"Temos a esperança de que o Brasil e outros trabalhem juntos para que Israel responda as suas graves e repetidas violações dos direitos humanos do povo palestino antes que a solução dos dois Estados seja completamente destruída", afirmou Ashrawi segundo um comunicado da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Ontem, em Israel, Patriota defendeu um maior protagonismo do Brasil no Oriente Médio, e hoje afirmou que um dos objetivos de sua visita é "tomar consciência da situação nos territórios ocupados e ver as perspectivas reais do processo de paz".
O embaixador palestino em Brasília, Ibrahim Alzeben, declarou à Agência Efe que a visita do chanceler é "histórica" e uma demonstração dos estreitos laços que foram sendo criados desde que Lula se tornou o primeiro dirigente brasileiro a visitar oficialmente os territórios palestinos.