Morador de Jabalia observa a destruição na mesquita Al-Omari, na região de Gaza (Mohammed Abed/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2014 às 13h45.
Gaza - Além das 2.000 pessoas mortas até o momento, o conflito na Faixa de Gaza também cobra como vítimas algumas joias do já descuidado patrimônio histórico-cultural deste território palestino, como a mesquita de Al-Omari, em Jabaliya, que destruída por um míssil israelense.
Algumas partes do templo remontavam ao século XIV.
Uma mesquita teria sido construída no lugar no século VII, pouco depois do surgimento do Islã.
A mesquita de Omari era um dos prédios históricos que ainda se encontrava de pé em Gaza, uma cidade onde os blocos de moradias de concreto bruto se alinham ao longo de ruas poeirentas.
O templo está atualmente em ruínas. Só resta o minarete.
O almuaden (a pessoa que faz o chamado à oração) foi atingido pelo míssil enquanto cumpria com sua obrigação, afirmam os vizinhos.
A Faixa de Gaza tem assentamentos humanos sedentários há 5.300 anos, mas os séculos de guerras e crescimento galopante da população desde a criação do Estado de Israel em 1948 apagaram qualquer traço de riqueza histórica e cultural deste território mediterrâneo encrustado entre o Egito e Israel.
A ministra palestina do Turismo e Antiguidades, Rula Maayah, pediu nesta quinta-feira à Unesco que denuncie a destruição intencional do patrimônio palestino pelo exército israelense e equipare isso a um "crime de guerra".
Mas no próprio território a preservação "não é prioridade para ninguém", afirma Yasmine al Judari, que ajuda seu pai a manter o pequeno museu que criou.
"Quando se pensa em Gaza, não se pensa em sua história, na Gaza antiga ou na arqueologia, se pensa em emergência alimentar ou médica, em campos de refugiados", lamenta.
Para paliar a falta de museu público, seu pai, Jawdat al Judary, começou a colecionar objetos que ia descobrindo quando revolvia a terra para a construção.
Esses objetos datam da época dos cananeus até a Primeira Guerra Mundial.
Um hammam histórico
O museu privado, que abriu em 2008 frente ao mar em Gaza, expõe vestígios de cerâmica antiga, peças de moedas, objetos em bronze a armas.
É associado ao museu um restaurante e um hotel que integraram algumas das descobertas: os pilares do balcão eram parte dos trilhos do trem que em outros tempos cruzavam o território.
Os Judary pensavam em aumentar sua coleção e renovar o museu e, em abril, receberam a visita de dois arqueólogos franceses, conta Yasmine.
Um dos arqueólogos voltou em julho, mas foi embora quando explodiu a guerra.
Os bombardeios causaram danos diretos e também indiretos ao patrimônio de Gaza, diz Ahmed al Barsh, do ministério de Turismo.
"Indiretos porque os visitantes não podem entrar, sejam estrangeiros, estudantes ou pesquisadores".
Antes mesmo da atual guerra, o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza tornou o trabalho impossível, acrescentou.
"Israel proibiu a importação de materiais de construção porque as organizações internacionais que trabalham neste setor deixaram de nos apoiar", afirma.
A mesquita Al Mahkamah, que data do século XV, também foi destruída em Chajaya, um dos bairros de Gaza mais atingidos pelos bombardeios. Em um caos de escombros, cabos de eletricidade e metal se ergue apenas o minarete da era dos mamelucos.
O hamman al Samara, último banho turco de Gaza, teve de fechar com a guerra. Os habitantes o frequentam há mais de mil anos. Era uma das últimas atrações ainda intactas para os poucos turistas.
Mohamed al Uazir, cuja família dirige o hamman há quase um século, tenta pensar no futuro, apesar de cinzento, e fala de voltar a abrir o estabelecimento.
Pretende reduzir o preço da entrada pela metade (10 shekels, 2 euros) "em solidariedade para com as pessoas e pelo que tiveram de passar".