O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho: Passos Coelho acusou o principal partido da oposição de prejudicar a credibilidade do país. (Patricia de Melo Moreira/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2013 às 16h06.
Lisboa - O primeiro-ministro de Portugal, o conservador Pedro Passos Coelho, que tem maioria absoluta no congresso, definiu nesta quarta-feira como "irresponsável" e "inútil" a moção de censura do Partido Socialista (PS), que pediu sua demissão para "salvar" o país.
No mais duro debate parlamentar protagonizado nos dois anos do atual mandato, os dois grandes partidos lusos mostraram suas profundas diferenças sobre a política econômica que o país deve seguir, sujeito aos compromissos do resgate financeiro que pediu em maio de 2011.
Passos Coelho, que chegou ao poder nas eleições antecipadas realizadas um mês depois que o PS solicitou ajuda externa, acusou o principal partido da oposição de prejudicar a credibilidade do país e de criar "instabilidade" enquanto se negociam com a UE melhores prazos para quitar o empréstimo.
A insistência do PS em renegociar as condições do resgate implacariam, além disso, segundo o primeiro-ministro, que Portugal passe por um segundo programa de assistência com novos prazos e fundos.
A outra grande reivindicação da oposição, o fim da austeridade, representaria um retorno "a políticas desastrosas de aumento do déficit", defendeu Passos Coelho, que questionou a vontade dos socialistas de cumprir com as obrigações do país.
Também lembrou que foi o PS que pediu e negociou as condições dessa ajuda e lhe responsabilizou de ter mergulhado o país na crise financeira que obrigou a solicitá-la.
Com Passos Coelho mais veemente do que o normal, o secretário-geral do PS, António José Seguro, pediu abertamente sua renúncia para evitar que "destrua" o país e se mostrou, pela primeira vez, decidido a liderar um novo governo.
Essa é a primeira moção de censura contra a coalizão de centro-direita que governa Portugal apresentada pelos socialistas, que se abstiveram em outras três votações promovidas no último ano pelos pequenos partidos marxistas da Assembleia Legislativa.
Seguro justificou a iniciativa na urgência de deter a "tragédia" econômica e social que vive Portugal pelas medidas de austeridade e os erros e más previsões de Passos Coelho.
Em 2013, o governo previa um crescimento de 0,6% e, após dois anos de queda do PIB, agora prevê outro retrocesso da economia de 2,3% - reprovou Seguro - que representa "um erro de 4,5 bilhões de euros".
"O desemprego alcança níveis nunca vistos, de 40% entre os jovens", denunciou o líder socialista ao lembrar que o número total de desempregados se aproxima ao milhão de pessoas, em um país de 10,5 milhões de habitantes.
Em 2012, Portugal caiu pela primeira vez no índice de desenvolvimento humano enquanto o governo "transforma a austeridade em uma ideologia política", assegura que o país esta na direção correta e insiste que nada deve mudar, proclamou.
Em resposta à reprovação de Passos Coelho, Seguro afirmou que a "alternativa" que seu partido propõe é o "rigor orçamentário com crescimento", embora não tenha dado detalhes concretos sobre sua aplicação.
Os três partidos marxistas do Parlamento (que reúnem 24 dos 230 deputados) se somaram às duras críticas do PS (com 74) contra a política de austeridade de Passos Coelho.
No entanto, a coalizão de social-democratas e democratas-cristãos que integra o Executivo conta com uma maioria de 182 parlamentares que a permite superar com facilidade o voto de censura de hoje.