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Passeata em Buenos Aires por morte misteriosa de promotor

Governo argentino criticou o protesto, considerando-o parte de uma manobra "golpista"

 Passeata em homenagem a Nisman em Buenos Aires: polícia acredita que 300.000 pessoas devem comparecer à manifestação (AFP/ Juan Mabromata)

Passeata em homenagem a Nisman em Buenos Aires: polícia acredita que 300.000 pessoas devem comparecer à manifestação (AFP/ Juan Mabromata)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2015 às 11h07.

Buenos Aires - Promotores e políticos da oposição devem liderar nesta quarta-feira uma grande passeata em silêncio, um mês depois da misteriosa morte de um promotor que acusou o Irã pelo atentado antissemita de 1994 e a presidente Cristina Kirchner por acobertar os suspeitos.

O governo criticou o protesto, considerando-o parte de uma manobra "golpista", e afirmou que a denúncia do falecido promotor Alberto Nisman contra Kirchner é uma tentativa de envolver o país no conflito do Oriente Médio.

A origem do caso, que envolve uma confusão judicial e política, é a explosão que destruiu há quase 21 anos a mutual judaica argentina AMIA, um ataque que deixou 85 mortos e 300 feridos.

Nisman foi encontrado morto no banheiro de seu apartamento em 18 de janeiro, com um tiro na cabeça de uma pistola calibre 22 emprestada por um colaborador. Havia apenas uma bala no chão e o corpo obstruía a porta.

A polícia acredita que 300.000 pessoas devem comparecer à passeata, que vai caminhar do Congresso até a Praça de Maio, diante da sede do governo.

A ex-esposa de Nisman, a juíza Sandra Arroyo Salgado, que na semana passada pediu para o caso não ser politizado, confirmou na terça-feira que comparecerá ao evento ao lado das duas filhas que teve com o promotor, de 15 e sete anos.

Na Argentina quase ninguém acredita na hipótese de suicídio. Nisman havia acusado Cristina Kirchner quatro dias antes e na manhã seguinte a sua morte deveria justificar a denúncia no Congresso.

Em 2005, com o apoio do falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), Nisman acusou do atentado contra a AMIA ex-governantes iranianos, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani.

Mas em 2013, Cristina Kirchner assinou um acordo com o Irã para criar uma comissão de investigação integrada por juristas que não fossem nem argentinos, nem iranianos, que levaria os acusados aos bancos dos réus.

Nisman e a numerosa comunidade judaica discordaram do acordo e alegaram que Teerã não era confiável.

Na acusação contra Kirchner, apresentada na sexta-feira pelo promotor Gerardo Pollicita, Nisman disse que a presidente tentava liberar das acusações os iranianos em troca de petróleo, apesar do combustível de Teerã ser incompatível com as refinarias argentinas.

Outro argumento é que Kirchner pediu a retirada dos pedidos de captura internacional contra os iranianos, mas a Interpol negou a acusação.

"Não há nenhuma prova que mostre que a presidente ou o ministro (das Relações Exteriores, Héctor Timerman) ou alguém mais oferecia impunidade aos autores do atentado", disse o ex-procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI) Luis Moreno Ocampo.

Moreno Ocampo considera que a passeata deve ser usada para pedir a reformulação dos serviços de inteligência, "que vêm da ditadura (1976-83) e são inaceitáveis em uma democracia".

A dissolução da Secretaria de Inteligência será aprovada nesta quarta-feira por iniciativa de Kirchner, mas a esquerda denuncia que a nova agência utilizará os mesmos agentes questionados.

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