Documentos defendem que o Egito seja um Estado civil e não religioso, aberto a todos os componentes da sociedade egípcia (Asmaa Waguih/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de março de 2012 às 20h20.
Cairo - A maioria dos partidos políticos egípcios estabeleceu nesta quinta-feira uma série de princípios para garantir que na Assembleia Constituinte estejam representados todas as camadas da sociedade e sair assim da crise provocada após a retirada da quarta parte dos membros da comissão.
Em reunião com o chefe da Junta Militar, marechal Hussein Tantawi, os grupos decidiram eleger alguns dos candidatos que ficaram na reserva para garantir uma representação efetiva de todas as forças políticas, da sociedade civil e de personalidades públicas na elaboração da nova Constituição.
Segundo o comunicado final da reunião, divulgado pela agência oficial 'Mena', que foi aprovado por 14 partidos e rejeitado por cinco, o objetivo é conseguir 'um equilíbrio adequado' na Assembleia Constituinte.
Os grupos também reafirmaram que os princípios gerais estipulados no documento do Al-Azhar, instituição mais importante do islã sunita, e da Aliança Democrática, sejam as referências para redigir a Constituição.
Estes documentos defendem que o Egito seja um Estado civil e não religioso, aberto a todos os componentes da sociedade egípcia.
Além disso, os participantes da reunião concordaram com a formação de comissões para ajudar a Assembleia na redação e prestar-lhe assistência técnica.
Estes pontos foram apoiados pelos grupos islamitas que dominam o Parlamento, o Partido Liberdade e Justiça (PLJ, ligado aos Irmãos Muçulmanos), e o salafista Al Nouri.
Também recebeu o apoio do nacionalista Al Wafd, que na quarta-feira retirou seus membros porque a comissão está formada por parlamentares, e depois esses mesmos legisladores elegem a outra metade entre as personalidades públicas.
Enquanto isso, o partido Egípcios Livres, um dos mais fortes do bloco liberal que se retirou no sábado passado, rejeitou estes pontos.
Ao início da reunião, Tantawi pediu a todos os grupos políticos que trabalhem com 'veracidade e fidelidade sem influências partidárias' para participar da elaboração da nova Constituição.
A máxima autoridade do Egito expressou sua esperança em chegar a 'resultados positivos e a soluções lógicas que satisfaçam todas as camadas do povo egípcio'.
Além disso, a Junta Militar emitiu um comunicado no qual assegurou que 'não haverá uma Carta Magna de uma facção específica', perante os temores que os islamitas monopolizem sua redação.
O Exército 'não esteve nem estará a favor de nenhuma facção na disputa política egípcia, nem fez e nem fará acordos (políticos) com ninguém porque isto está contra os princípios e valores das Forças Armadas', ressaltou a nota.
Os dirigentes militares reiteraram ainda seu compromisso com 'o Mapa de Caminho e a transparência e limpeza de todas suas resoluções no que resta do período transitório, até a entrega do poder no próximo dia 30 de junho'.
A redação da Carta Magna é um dos passos fundamentais no processo de transição iniciado no Egito, que deverá ser coroado com a eleição de um novo presidente nas eleições convocadas para os próximos dias 23 e 24 de maio.