O anúncio das sanções americanas fez com que a moeda turca atingisse seu piso histórico, cotada a 5 liras por dólar (Kevin Lamarque/Reuters)
AFP
Publicado em 2 de agosto de 2018 às 12h42.
A Turquia manifestou sua irritação, nesta quinta-feira (2), após as sanções impostas pelos Estados Unidos, na véspera, contra dois ministros do presidente Recep Tayyip Erdogan por causa da detenção de um pastor americano.
Na quarta à noite, Ancara garantiu que medidas "recíprocas" serão tomadas "sem demora", depois que o Departamento do Tesouro americano anunciou sanções econômicas contra os ministros turcos da Justiça, Abdulhamit Gül, e do Interior, Süleyman Soylu.
Essa grave crise surge na sequência de uma rápida escalada de tensões ligada ao destino do pastor americano Andrew Brunson. Ele foi colocado sob detenção domiciliar vigiada na semana passada, após passar um ano e meio preso na Turquia por "terrorismo" e "espionagem".
Em um raro gesto de unidade, as bancadas parlamentares de quatro partidos turcos divulgaram hoje um comunicando comum, condenando as sanções. "Dizemos 'não' às ameaças dos Estados Unidos!", declararam.
Na mesma linha, também nesta quinta, a imprensa turca denunciou em uma só voz as medidas americanas.
"Decisão escandalosa de Washington", apontava o jornal pró-governo "Hürriyet".
"Ruptura histórica", dizia a manchete do jornal de oposição "Cumhuriyet".
Uma das mais graves entre esses dois aliados da Otan em décadas, essa crise acontece depois de o presidente americano, Donald Trump, elevar nos últimos dias a pressão para libertar o pastor Brunson.
"Acreditamos que ele foi vítima de um tratamento injusto e injustificado por parte do governo turco", declarou na quarta-feira a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, anunciando sanções contra os dois ministros turcos.
Essas sanções consistem no confisco de bens de Soylu e Gül, acusados de terem desempenhado um papel central na detenção do pastor, informou o Departamento do Tesouro americano. O governo Trump também proibiu qualquer cidadão americano de fazer negócios com essas autoridades turcas.
O ministro turco da Justiça minimizou as sanções contra ele. "Eu não tenho nada, um único centavo nos Estados Unidos", afirmou Gül.
As medidas americanas também indignaram a população.
"Estamos com raiva dos Estados Unidos (...) Embora eu não seja um apoiador de Recep Tayyip Erdogan, acho essas sanções injustas", disse à AFP Bülent Pasuk, morador de Istambul.
O anúncio das sanções americanas pesou contra a lira turca, já muito fragilizada. Cotada a 5 liras por dólar, a moeda turca atingiu seu piso histórico na quarta à noite.
Editorialistas próximos ao poder turco reivindicavam medidas duras, como, por exemplo, o fechamento da base aérea de Incirlik (sul do país), usada por Washington para suas operações na Síria.
Ontem, o Departamento de Estado americano indicou que o secretário Mike Pompeo havia conversado por telefone com o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu. Ambos devem se encontrar esta semana, em Singapura, para tratar da libertação do pastor.
Esse caso deteriora as relações bilaterais há quase dois anos. O pastor originário da Carolina do Norte foi preso em outubro de 2016, no âmbito dos expurgos feitos na Turquia após a tentativa de golpe contra Erdogan, em julho desse mesmo ano.
Também afetam as relações bilaterais a questão síria, a detenção de funcionários locais de consulados americanos na Turquia, assim como o destino do pregador turco Fethullah Gülen, exilado na América. Ancara reivindica com insistência sua extradição, acusando-o de envolvimento no golpe frustrado de julho de 2016.