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Partido Democrata ainda busca estratégia para enfrentar novo governo Trump

Agora na oposição, legenda debate novas formas de voltar a atrair eleitores e quais deverão ser os próximos líderes

Joe Biden e a mulher, Jill, caminham para helicóptero após posse de Donald Trump, na segunda, 20 (Jack Gruber/AFP)

Joe Biden e a mulher, Jill, caminham para helicóptero após posse de Donald Trump, na segunda, 20 (Jack Gruber/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 26 de janeiro de 2025 às 08h00.

Última atualização em 26 de janeiro de 2025 às 09h05.

A primeira semana de Donald Trump de volta à Presidência dos EUA foi difícil para o Partido Democrata, que ainda busca qual será o tom da oposição ao novo governo.

O republicano anulou dezenas de políticas que haviam sido implantadas pelos democratas na gestão de Joe Biden, como ações na área ambiental e de inclusão de minorias, e apertou o cerco contra a imigração irregular, área em que os democratas defendem mais tolerância aos estrangeiros que chegam ao país.

"É como se estívéssemos lutando contra os incêndios em Los Angeles, e o vento está a 100 milhas por hora. Vamos ter de esperar o vento acalmar. Vai levar algum tempo para os democratas poderem montar uma resposta efetiva", disse Matt Bennett, do think tank Third Way, de centro-esquerda, ao The New York Times.

Em 2017, quando Trump venceu pela primeira vez, os democratas se uniram e conseguiram atrair o público que tinha ficado revoltado com a vitória dele e temia perda de direitos. A tática deu certo por anos: em 2018, os democratas recuperaram o controle da Câmara dos Deputados e, em 2020, em meio à pandemia, elegeram Joe Biden como presidente, em uma campanha muito focada no anti-trumpismo.

No entanto, centrar a estratégia em torno do combate a Trump não deu certo em 2024, e o partido, com Kamala Harris na disputa, teve 6 milhões de votos a menos do que na vitória de Biden. Em 2016, o republicano havia perdido no voto popular, mas venceu no Colégio Eleitoral, o que é suficiente. Já oito anos depois, ganhou nas duas disputas, com folga.

Outro sinal de que a revolta contra Trump já não mobiliza mais como antes é que, após a vitória dele, houve poucos protestos, tanto na época da eleição quanto nos eventos perto da posse. Faltam também lideranças que tenham chamado para si a postura de confrontar Trump publicamente.

Há, ainda, a complicação de que Trump se aproximou de bilionários como Elon Musk e Mark Zuckerberg, que têm poderes para mudar as regras sobre o conteúdo nas redes sociais. Assim, Trump e o discurso conservador ganharam vantagens para levar sua visão de mundo a mais gente.

Qual a bandeira?

Parte do partido se colocou de maneira firme contra a medida de Trump de acabar com o direito à cidadania por nascimento, algo previsto na Constituição. Ao menos 22 governadores democratas entraram com uma ação conjunta contra a proposta, e conseguiram uma vitória parcial: um juiz federal suspendeu a medida temporariamente.

Contudo, no Senado, um grupo de 13 senadores democratas enviou uma carta ao líder dos republicanos, John Tune, pedindo para se unirem aos trabalhos para mudar o sistema de imigração americano.

Uma ala do partido tem defendido criticar Trump por sua proximidade com os bilionários, o que o colocaria contra os interesses dos trabalhadores de classe média.

É a proposta do movimento We Fight Back, que convocou protestos em cidades do país, nos dias perto da posse, contra o que chama de "agenda bilionária" de Trump e em defesa dos imigrantes. Os protestos reuniram algumas milhares de pessoas, mas tiveram pouca atenção da mídia americana.

Na quinta, 23, um grupo de 70 deputados democratas e seis republicanos se reuniram para tentar definir uma linha principal da oposição.

A conclusão foi focar na economia, um dos temas que mais mobilizaram o voto em Trump. O governo Biden teve recordes de inflação, que foi amortizada mas não voltou ainda ao patamar pré-pandemia. Especialistas apontam que promessas de Trump, como a de impor tarifas comerciais e retirar milhões de imigrantes, poderão aumentar a inflação.

"Será muito importante que os democratas apontem quais são as reais intenções de Trump, que são apertar os bolsos das pessoas a serviço dos megarricos", disse a deputada Greg Casar, após o encontro, a jornalistas.

Passagem de bastão

Neste processo de formação de oposição a Trump, também deverá ficar mais claro quem ganhará força como as novas lideranças do Partido Democrata, o que consolidará uma troca de geração no comando.

Os democratas tiveram como principais figuras nos últimos anos políticos com décadas no Congresso, como Joe Biden, hoje com 82 anos, e Nancy Pelosi, 84. Em 2020, os principais adversários de Biden nas primárias foram os senadores Bernie Sanders, com 83 anos hoje, e Elizabeth Warren, com 75.

Rusty Hills, professor de políticas públicas na Universidade de Michigan, avalia que Sanders e Warren dificilmente deverão disputar as eleições em 2028. "Isso fará com que o bastão tenha de ser passado a uma nova geração, cujos líderes ainda vão se firmar", disse à EXAME.

Entre os nomes mais cotados, Hills destaca Gretchen Whitmer, governadora de Michigan, Gavin Newson, governador da Califórnia, e Pete Buttigieg, ex-secretário de Transportes. No entanto, ele avalia que o futuro do partido dependerá muito de quem for nomeado candidato presidencial em 2028.

"Os partidos adotam as posições de seus candidatos presidenciais. Veja como Trump mudou completamente o Partido Republicano, que era muito diferente nos tempos de Ronald Reagan e George W. Bush", aponta. "O partido será mais progressista? Vai retornar ao centro? Haverá um esforço para atrair de volta os trabalhadores braçais? Temos de esperar para ver."

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