Putin, primeiro-ministro russo, deve voltar à Presidência depois das eleições de março, mas parece cada vez mais isolado (AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2012 às 16h12.
Davos - A luta interna no Kremlin veio a público nesta semana, quando autoridades do governo solidárias à fragmentada oposição na Rússia advertiram o líder do país, Vladimir Putin, que ele pode perder o poder em breve se não realizar reformas abrangentes.
Putin, presidente da Rússia de 2000 a 2008 e hoje primeiro-ministro, deve voltar à Presidência depois das eleições de março, mas parece cada vez mais isolado depois de a oposição levar dezenas de milhares de pessoas para as ruas em dezembro para exigir uma nova eleição parlamentar.
Putin primeiro rejeitou os manifestantes como macacos tagarelas financiados pelo exterior, então apoiou uma proposta de seu protegido, o presidente Dmitry Medvedev, para uma reforma política gradual, mas depois colocou um ex-espião do KGB como chefe de gabinete do Kremlin.
Fontes do Kremlin dizem que a resposta muda é resultado de uma luta interna entre os 'siloviki', homens com um histórico nos serviços de segurança, e a facção dos 'liberais' ou 'moderados', cuja influência enfraquece de forma acentuada conforme o mandato de Medvedev chega ao fim.
Praticamente o clã inteiro dos 'moderados' viajou para o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, nesta semana, e usou o evento para falar sobre os desafios políticos maciços que a Rússia enfrenta.
As declarações feitas por várias figuras públicas contrastavam fortemente com aparições russas anteriores, quando as autoridades em sua maioria alardeavam o sucesso na melhoria do clima de investimento.
"Temos uma chance de escutar vozes nítidas e duras sobre como a atual situação é intolerável e precisa ser mudada", disse o primeiro vice de Putin, Igor Shuvalov, em Davos.
"Mudanças podem divergir. As coisas podem ser mudadas de tal forma que o poder pode ser perdido, como ocorreu com Gorbachev em 1991", disse ele. "Não devemos nos inclinar para os conservadores, (que querem) tampar a garrafa e não deixar escapar nenhum gás, ou fazer o oposto e dar tanta liberdade que leve ao caos".
Outra autoridade de alto escalão, o assessor econômico do Kremlin Arkady Dvokovich, disse que a Rússia precisava de um partido que representasse a direita política e descreveu como o maior problema do país "a pressão excessiva e constante do Estado".
Mesmo o primeiro-vice-diretor do Banco Central, Alexei Ulyukayev, fez críticas, dizendo que o governo interveio "de maneira muito frequente" nos negócios privados no setor bancário e de petróleo.