A ministra da Integração da Itália, Cecile Kyenge: Kyenge pede "que a política se levante para condenar esses ataques ou o racismo pode se transformar em uma arma perigosa" (REUTERS/Tony Gentile)
Da Redação
Publicado em 15 de janeiro de 2014 às 09h20.
Roma - Os membros da Liga Norte continuam seus ataques à ministra italiana de Integração, Cécile Kyenge, originária do Congo, e a polêmica voltou à tona no país depois que o jornal oficial do partido, "La Padania", decidiu publicar diariamente a agenda de suas atividades.
"La Padania" vem publicando desde sábado uma coluna em que são enumerados os diferentes atos em que a ministra participará, depois de sofrer ataques racistas por parte dos membros do partido.
O Partido Democrata (PD), ao qual Cécile pertence, considerou a publicação da agenda da ministra um fato "muito grave e no limite da intimidação".
O prefeito de Verona e um dos principais representantes da Liga Norte, Flavio Tosi, explica hoje no jornal "La Repubblica" que não vê problema algum em publicar a agenda que a mesma ministra posta no site do Ministério.
Para Tosi, é importante que os cidadãos saibam o que faz uma ministra como Cécile "que não fez uma proposta desde que foi nomeada" e "quem ocupa um posto institucional sabe que podem criticá-lo de maneira civil".
A controvertida iniciativa do jornal se somou à declaração do porta-voz no Senado da Liga Norte, Massimo Bitonci, que afirmou ontem que a ministra "não sabe o que é a integração" e que só quer "favorecer os negros".
Os ataques a Cécile vieram também do novo líder da Liga Norte, Matteo Salvini, que assegurou que seu partido acabará "forçando sua renúncia" e a eliminação de um Ministério "inútil e que propaga ideias perigosas".
A Liga Norte, conhecida por sua ideologia xenófoba e que reivindica a secessão da chamada Padania - como denominam uma ampla região do norte do país - iniciou seus ataques racistas à ministra comparando-a com um "orangotango".
Mas a campanha contra a ministra, além de ser motivada por suas origens, se baseia na intenção dela de introduzir na Itália o "jus soli" (direito de solo), segundo o qual os cidadãos podem obter a nacionalidade do país onde nasceram, indiferentemente da origem de seus pais; assim como em sua luta por descriminalizar a imigração clandestina.
A ministra definiu hoje no jornal "La Repubblica" que "ser negra e estar no governo é um desafio aos piores estereótipos".
Diante das novas agressões verbais, Kyenge pede "que a política se levante para condenar esses ataques ou o racismo pode se transformar em uma arma perigosa".