Tayyip Erdogan: O partido islâmico-conservador do presidente turco Recep Tayyip Erdogan venceu as eleições (Ints Kalnins/Reuters)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2015 às 16h20.
O partido islâmico-conservador do presidente turco Recep Tayyip Erdogan venceu as eleições legislativas antecipadas deste domingo e voltará a ter a maioria absoluta no parlamento, segundo resultados divulgados pelos canais locais.
Com 95% das urnas apuradas, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) tem quase 50% dos votos e 320 cadeiras em um total de 550, informam os canais CNN-Türk e NTV.
O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata) estaria em segundo lugar, com 24,5%, seguido pelo Partido da Ação Nacionalista (MHP, direita), com 12%, o que melhorou seu desempenho em relação à eleição anterior.
Outra surpresa do dia foi o mau resultado do Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo), depois de sua entrada triunfal na câmara em junho passado. Desta vez, só obteve 10% dos votos, um resultado ruim, mas que garante que permaneça no parlamento.
Após a divulgação dos resultados, policiais e ativistas curdos entraram em confronto em Diyarbakir, a principal cidade curda da Turquia.
Os distúrbios começaram diante da sede do partido pró-curdo HDP.
Com esta vitória, o AKP poderá obter a maioria de dois terços do parlamento (367 deputados) necessários para realizar as mudanças na Constituição pedidas por Erdogan para conseguir mais poder.
Os adversários de Erdogan tentaram sem sucesso durante a campanha criticar sua tendência autoritária, que levou nos últimos dias ao fechamento de redes e jornais da oposição.
Medo da instabilidade
Os 54 milhões de eleitores turcos compareceram em massa às urnas para eleger o novo Parlamento, em um contexto de alta tensão devido à retomada do conflito curdo, à violência jihadista procedente da Síria e às alegadas tendências autoritárias do governo.
Mas quase nenhuma pesquisa previu a vitória do AKP, o que decepcionou a muitos turcos.
"Estou muito triste, mas este resultado mostra que o povo se adaptou à atual situação", declarou Sevim, um estudante de direito da Universidade de Istambul.
"O medo da instabilidade na Turquia, junto com a estratégia de Erdogan de se apresentar como o homem forte que pode proteger o povo venceram", analisou, por sua parte, Soner Cagaptay, do Washington Institute
Erdogan e seu primeiro-ministro e líder do AKP, Ahmet Davutoglu, se apresentaram como os únicos que podem garantir a segurança e unidade do país.
"A Turquia tem feito grandes progressos no caminho da democracia e isso será reforçado com as eleições de hoje", afirmou o presidente islâmico-conservador Recep Tayyip Erdogan ao depositar seu voto em Istambul.
Davutoblu, que votou em Konya, reduto conservador no centro do país, comemorou a vitória de Erdogan.
"Hoje é um dia de vitória. A vitória pertence ao povo", afirmou, diante de uma multidão de simpatizantes do AKP.
Em 7 de junho, o AKP de Erdogan sofreu uma importante derrota. Apesar de ter chegado em primeiro, com 40,6% dos votos, perdeu a maioria absoluta que possuía há treze anos no Parlamento, mergulhando a Turquia na instabilidade política.
Este revés trouxe à tona a ambição do chefe de Estado de impor ao país uma "superpresidência" com prerrogativas reforçadas.
As pesquisas de opiniões creditavam dessa vez ao AKP de 40 a 43% dos votos, um resultado insuficiente para governar sozinho.
Desde o verão, o conflito armado que opõe desde 1984 os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) às forças de segurança turcas foi retomado no sudeste de maioria curda do país, enterrando o frágil processo de paz iniciado há três anos.
A guerra que arrasa há quatro anos a Síria também chegou até a Turquia após o atentado suicida realizado por dois membros do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que fez 102 mortos entre militantes pró-curdos.
Esse aumento da violência preocupa cada vez mais abertamente os aliados ocidentais da Turquia, começando com a União Europeia que tem enfrentado um crescente fluxo de refugiados, principalmente sírios, a partir de seu território.
Cerca de 400 mil policiais e gendarmes foram mobilizados para garantir a segurança da votação, especialmente no sudeste do país, afetado pela retomada do conflito curdo.