Jogador da seleção da Argentina, Lionel Messi: movimentos palestinos celebraram cancelamento do amistoso entre Argentina e Israel em Jerusalém (Marcos Brindicci/Reuters)
Reuters
Publicado em 6 de junho de 2018 às 12h25.
Última atualização em 6 de junho de 2018 às 14h14.
A seleção argentina de futebol oficializou a suspensão da partida amistosa que seria realizada neste sábado entre Israel e Argentina. A informação foi divulgada nesta terça-feira pelo presidente da Federação Argentina de Futebol, Claudio Tapia.
A decisão vem após pressão de movimentos que pedem o fim da ocupação israelense dos territórios palestinos. Tapia, no entanto, alegou preocupações com a integridade física dos jogadores para justificar o cancelamento.
A última partida de preparação da Argentina para a Copa do Mundo foi marcada originalmente para a cidade litorânea israelense de Haifa, mas foi remarcada para acontecer em Jerusalém a pedido do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, gerando revolta entre os palestinos.
Segundo a agência Reuters, Netanyahu ligou para o presidente argentino, Mauricio Macri, na tentativa de reverter o cancelamento, mas não obteve sucesso.
O cancelamento do amistoso entre Argentina e Israel, previsto para este sábado, era esperado após protestos palestinos pela escolha de Jerusalém como sede da partida.
Sem confirmar a notícia, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Faurie, explicou ontem: "Até onde sei, os jogadores da seleção não querem disputar esta partida", em declarações a jornalistas em Washington, onde assiste à assembleia anual da OEA.
"Messi, não vá!", gritaram ao capitão argentino os manifestantes, cerca de 30 pessoas que se aglomeraram nesta terça-feira na entrada do centro de treinamento em Barcelona onde a seleção argentina está concentrada.
"O próprio técnico da seleção (Jorge Sampaoli) havia pedido que não fossem mais disputadas partidas para que a equipe pudesse se concentrar no primeiro jogo na Rússia em 16 de junho (em Moscou contra a Islândia)", completou Faurie.
Os sites dos principais jornais argentinos afirmaram que o elenco teme por sua segurança, especialmente depois de verem manifestantes vestindo camisas da seleção manchadas de sangue durante um treino.
"Os israelenses tentaram usar Messi e os astros da Argentina, e eu gostaria de agradecê-los, aplaudir a decisão que acho que seguiu o caminho certo", disse o presidente da Associação Palestina de Futebol, Jibril Rajoub, em uma coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira em Ramallah, na Cisjordânia.
Na entrada do local da coletiva havia um cartaz dizendo "Da Palestina, obrigado, Messi", com bandeiras argentinas e palestinas, sob uma foto grande de Rajoub posando com o craque do Barcelona.
Goooaaal! Nabi Saleh's football team in the occupied West Bank thanks @Argentina & Lionel Messi for canceling Israel 'friendly'. “You scored a goal for freedom, justice and equality,” say relatives of Ahed Tamimi, Palestinian minor in Israeli prison for confronting Israeli forces pic.twitter.com/hq4bL72sRu
— PACBI - BDS movement (@PACBI) June 6, 2018
A declaração mostrou uma mudança de tom de Rajoub, que no domingo havia pedido aos palestinos que queimassem fotos de Messi e réplicas de sua camisa se ele jogasse em Jerusalém.
O presidente de Israel, Reuven Rivlin, disse nesta quarta-feira estar muito preocupado com o que considera a "politização" da seleção argentina.
"É realmente uma manhã triste para os torcedores, incluindo alguns dos meus netos, mas há valores que são ainda maiores que Messi", disse Rivlin.
"Mesmo nos momentos mais difíceis, fizemos todo o possível para deixar as considerações que não eram puramente esportivas fora do campo, e é uma pena que a equipe da Argentina não tenha conseguido desta vez", completou.
A Associação de Futebol de Israel acusou os palestinos de cruzarem a "linha vermelha" ao incitar uma revolta contra os jogadores argentinos para anular a partida e que se queixará à Fifa dos comentários de Rajoub, que descreveu como "ameaças físicas e brutais".
Os palestinos se opuseram à decisão de realizar o confronto em Jerusalém, acusando Israel de tentar usar a ocasião, e especialmente a presença do ídolo global Messi, para reforçar sua reivindicação sobre a Cidade Sagrada. Não fariam oposição, contudo, se o jogo fosse realizado em Haifa, tal como planejado.
A disputa pela cidade sagrada é o ponto fundamental do conflito árabe-israelense. Israel considera a totalidade de Jerusalém como sua capital, e os palestinos querem o setor oriental da cidade como capital de seu próprio Estado.
A maioria dos países sustenta que o status de Jerusalém deve ser resolvido em conversas de paz, mas o presidente americano, Donald Trump, reverteu décadas de política externa de seu país ao reconhecer a cidade como a capital de Israel.
Ao menos 120 palestinos foram mortos baleados por soldados israelenses durante manifestações na fronteira de Gaza com Israel desde o dia 30 de março, em uma nova escalada de violência provocada pela renovada disputa.